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E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arripia os ombros quase nus.
Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.
As
burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de
histerismo.
Num cutileiro, de avental, ao torno,
Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.
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Depois de jantar, à luz da iluminação a Gás, Cesário
continua as suas deambulações pelo Chiado, olhando as montras das lojas de
moda, ao lado da função vulgar de padaria ou cutileiro – fabrico e venda de
facas, tesouras (ocasional) – estas oficinas fazem aqui todo o sentido, pois
esta é uma área onde se vendem tecidos a metro e oficinas de costureiras além
dos restaurantes que utilizam estes objetos cortantes.
A padaria, uma das únicas indústrias
que ainda hoje permanece dentro da cidade, proximidade do consumidor.
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Referência às prostitutas, designadas
como «as impuras» , ideia reforçada
pela apóstrofe: «ó moles hospitais».
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