Fórum 1 - O que é a gentrificação?

 
luis mendes
Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Luís Mendes - Domingo, 20 de Março de 2022 às 20:31
 

Por favor leia o texto "nobilitação urbana no Bairro Alto" e, também de acordo com os conteúdos trabalhados nas sessões síncronas, responda, de forma sintética, às seguintes questões:

1- Dê uma definição de gentrificação, caracterizando o processo.

2- Distinga os dois blocos teóricos que explicam a gentrificação (oferta/produção vs. procura/consumo).

3- Explique em que medida a reestruturação económica nas cidades (desindustrialização, terciarização, cultura de consumo,...) explica o surgimento dos novos moradores (gentrifiers) nos bairros do centro histórico.




Fotografia de Gilda Belo
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Gilda Belo - Quarta, 23 de Março de 2022 às 17:42
 

Gentrificação é uma mudança no mercado habitacional das cidades, reabilitação de edifícios, é uma questão social e residencial, mas, também, comercial. Tem aspetos positivos, pois resolve o problema de edifícios velhos e precários para edifícios novos e com boa construção. Zonas antigas e degradadas são requalificadas, no entanto, os preços disparam e tornam-se residências das classes mais endinheiradas, zonas de bares, de galerias, de arte. Existe uma mudança urbana com a reabilitação dos edifícios, a renda locativa com preços obscenos. As pessoas que viviam nestes bairros, de grupos sociais mais desprotegidos, ou por despejo ou pressionados, saem para a periferia/subúrbios, sendo ocupados estes bairros por pessoas de uma classe económica mais elevada. A gentrificação, será então, a reorganização da geografia social da cidade, com substituição das áreas centrais da cidade de um grupo social por outro de estatuto mais elevado, dando lugar ao desalojamento de idosos, imigrantes.

2 - Distinga os dois blocos teóricos que explicam a gentrificação (oferta/produção vs. procura/consumo).

Oferta imobiliária, com potencial para a gentrificação. Funcionamento do mercado de habitação e mecanismos fundiários, usos do solo urbano; fluxos espaciais de capital e destruição criativa do ambiente construído; aplicação de conceitos marxistas, ciclo de capital, modo de produção, luta de classes (novas ofertas); agentes institucionais (estado, Poder Local e Instituições financeiras) e produção social do espaço urbano, desenvolvimento espacial desigual. As construtoras e os meios financeiros perceberam que existe uma forte possibilidade de reabilitar edifícios e realizar muito dinheiro no centro da cidade. Nos últimos anos, de uma forma mais agressiva, entraram novos agentes nos fundos de investimento imobiliário que estão a reabilitar a cidade para as pessoas com muito poder económico, nomeadamente estrangeiros. Há medida que os bairros vão evoluindo, existem edifícios antigos, com arquitetura antiga, casas envelhecidas, o que diminui o seu valor, no entanto havia um potencial económico, com a reabilitação desses edifícios. Verifica-se a saída da população do centro da cidade para os subúrbios, o centro da cidade vai-se esvaziando. Há um momento em que o capital se centra no centro da cidade e passa a ser altamente lucrativo investir no centro histórico. (compra de edifícios em mau estado por um preço baixo que após ser reabilitado se vende por muito dinheiro). Verifica-se um consumo/ novas procuras de edifícios reabilitados por uma classe economicamente elevada, bares, galerias, turismo local.

 

3- Explique em que medida a reestruturação económica nas cidades (desindustrialização, terciarização, cultura de consumo,...) explica o surgimento dos novos moradores (gentrifiers) nos bairros do centro histórico.

As industrias deslocam-se para as periferias, a cidade surge como oferta de comércio e serviços. Verificamos mudanças na estrutura demográfica, cultural e sócio-profissional, uma estetitização da vida social. Uma primazia da procura, definição de perfil “gentrifiers”. Emergência de novos estilos de vida, valores e padrões de consumo, das novas classes médias. A reestruturação económica das cidades, passa por reabilitação, modernização, mais comércio e serviços e criação de empregos.


Fotografia de Maria Manuela Carrola
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Maria Manuela Carrola - Quinta, 24 de Março de 2022 às 11:36
 

1) DEFINIÇÃO DE “GENTRIFICAÇÃO”, CARACTERISTICAS DO PROCESSO:

De uma maneira muito simples, entende-se por “ gentrificação” a alteração/substituição nas áreas residenciais dos centros históricos das classes que inicialmente as ocupavam, mais baixas, por classes sociais mais altas, nomeadamente as da média-alta.

Este processo foi dando-se de uma forma gradativa, fruto da também necessária regeneração urbana, mas acima de tudo, por um aumento do interesse por parte de novos atores urbanos, que encontraram nestas áreas centrais da cidade , “ spots” de convívio bastante seletivos, do seu maior interesse, das suas aspirações, com vista a autopromoverem-se socialmente, profissionalmente, etc. Estas áreas passaram a representar emocionalmente um conjunto de mais-valias distintas. Dessas destacam-se a proximidade dos serviços, dos eventos culturais, das suas tribos urbanas e da fácil locomoção. Não menos importante, a convicção de uma distinção social, ( status) conotado com o sítio antigo onde residem.  Esta recentralização seletiva permite aos seus atores manter a proximidade cultural e social com os seus semelhantes.

Ainda que positivo do ponto de vista urbanístico, pela melhoria do edificado e da paisagem urbana, a Gentrificação alterou o espaço social, cultural e económico, de alguns bairros, descaracterizando a identidade tradicional que os distinguia. Desenraizou os seus habitantes e criou problemas sociais de exclusão, que deveriam ter sido acautelados, nomeadamente os despejos e o assédio. Para além disso, gerou uma inflação brutal no preço do solo urbano e alterou a estrutura fundiária, havendo a proliferação de habitações pequenas ( T1 e T0) que sobrecarrega os espaços envolventes.

A Gentrificação pouco contribuiu para o rejuvenescimento da população residente( rejuvenescimento parcial). Os gentrifiers já viviam na cidade. São jovens adultos, em início de vida, com profissões bem remuneradas e que defendem uma higiene social, que os individualiza num pequeno espaço urbano.

 

2) DISTINÇÃO DOS BLOCOS TEÓRICOS QUE EXPLICAM A GENTRIFICAÇÃO

( OFERTA/PRODUÇÃO)  VS. ( PROCURA/CONSUMO)

A Gentrificação surgiu porque havia um conjunto de espaços nos centros históricos altamente degradados, devolutos, que foram durante muito tempo desvalorizados. O espaço periférico era, até então, mais atrativo pela maior oferta de espaço, habitações mais amplas, maiores áreas, e a presença de alguma minorias desvirtuava o interesse pelas áreas centrais.

As teorias explicativas da Gentrificação distinguem-se na teoria da “ produção/ oferta” ( Geografia radical) e na teoria “procura/consumo” ( Geografia humanista).

Na primeira, a Gentrificação surge como resultado de um processo ecológico-urbano.  Os espaços devolutos, a fuga das indústrias e a crescente oferta imobiliária, com aposta na reabilitação,  criam um potencial para Gentrificação. A crescente oferta, disponibilizada pelos construtores imobiliários, motivada pelos interesses económicos da sobrevalorização do espaço urbano, abriram caminho para a Gentrificação - fase “adolescente”.

Numa espécie de luta de classes, o preço elevado do solo dos lugares centrais acrescido dos investimentos imobiliários a nível dos materiais, do conforto, exclusividade e o enamoramento destes espaços da cidade pelos novos atores, criam uma disputa em que aquele com maior capacidade financeira, ganha.  ( desagregação)

 

Na segunda, com base no consumo/novas procuras, ocorrem não só mudanças na estrutura demográfica, mas também na estrutura cultural dos gentrifiers. Há uma crescente procura por parte dos interessados, em determinados pontos ou bairros específicos da cidade, a par com a estetização da sua vida social, que lhes dá prestígio socialmente - consumo. Ou seja, a Gentrificação passa a ser espoletada não pela vasta oferta imobiliária, mas pela crescente procura dos novos agentes invasores, que a trote de um estilo de vida selecto, exclusivo, distinto do ponto de vista cultural, encontram na apropriação destes espaços residenciais a projeção da chamada “ estetização da vida social”.

Surge um perfil de gentrifier jovem adulto, culto, de classe nobre, que procura determinados estilos de vida. Alguém que valoriza a segurança, a tolerância, a diversidade, mas que apresenta igualmente um apego emocional à cidade , pela sua localização geográfica, clima, pelas gentes que as ocupam , juntamente com o desejo de viver aqueles espaços “artisticamente”.

 

3) EXPLICAR EM QUE MEDIDA A REESTRUTURAÇÃO ECONÓMICA  ( DESINDUSTRIALIZAÇÃO, TERCIARIZAÇÃO, CULTURA DO CONSUMO) EXPLICA O SURGIMENTO DE NOVOS MORADORES/GENTRIFIERS NOS BAIRROS DO CENTRO HISTÓRICO.

Por razões que já conhecemos, a dada altura, os espaços urbanos centrais conheceram uma certa desvalorização em resultado da migração das indústrias para as áreas periféricas ou metropolitanas da cidade e pela valorização da própria população pelos subúrbios. A Indústria precisando de mais espaço, acesso às principais vias de comunicação e também por questões ambientais, deslocou-se criando espaços vazios, que passaram a ser menos valorizados – RENT GAP.  

Esta situação, levou a um profundo interesse pela reestruturação destes espaços, abrindo espaço para o aumento do investimento nesta área, com vista a ganhos financeiros elevados. Naturalmente, surgiu uma restruturação seletiva, com base na renda, que se traduziu demográfica e economicamente, por classes sociais mais elevadas, elitizadas e a multiplicação de atividades terciárias. 

O aumento do interesse pelos “ sítios antigos” surgiu num certo grupo de pessoas que não se identifica com os subúrbios. Valoriza o carisma, a circulação no espaço central, valoriza os contactos culturais, a proximidade a tribos urbanas com as quais se identifica e, que nelas reconhece a concretização da sua realização pessoal. É um grupo com um estilo de vida muito próprio, boémio, que procura uma localização privilegiada como marca social  e reconhece nesses bairros a oportunidade de se reinventarem. São pessoas isoladas, casais sem filhos, novos, em início de vida, profissionalmente bem remunerados, artistas… .

 Estes novos moradores dos bairros históricos alteram gradualmente o espaço, quer ao nível da materialização dos espaços ( comércio) , quer ao nível das vivências, pois criam nichos sociais próprios, associados à crescente valorização desse estilo de vida.  Com efeito, verifica-se uma crescente procura destes espaços  ( consumo) devido à valorização estética e social que proporciona. Assim, assiste-se a uma substituição demográfica e social destes bairros típicos, com novos moradores, ou “ gentrifiers”.


Fotografia de Ana Teresa Santos
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Ana Teresa Santos - Quinta, 24 de Março de 2022 às 19:42
 

1 - O conceito de gentrificação pode ser definido como um processo de substituição da população residente nos bairros históricos/ mais antigos das cidades por uma população de elevados níveis de rendimento. Esta substituição acontece a par com uma reabilitação do parque habitacional e pela escalada da renda locativa daqueles espaços.

Este processo tem dado origem a processos de despejo/ desalojamento de antigos moradores (idosos, imigrantes, estudantes) com fracos recursos económicos que são obrigados a abandonar estes bairros, não sendo possível, à posteriori, manter residência nestes locais que passam a ter rendas muito superiores àquelas que eram pagas anteriormente.

Sente-se, neste processo, um ajuntamento espacial de novos residentes com estilos de vida e caraterísticas culturais similares.

2- Existem duas teorias para abordar o processo de gentrificação.

Por um lado, existe oferta imobiliária com potencial para gentrificação (alguns edifícios devolutos, edifícios antigos com caraterísticas arquitetónicas interessantes, bem localizados e próximo do CBD, com vistas privilegiadas…) que constituem excelentes oportunidades de negócio. Um investimento inicial reduzido mas com potencial para valorizar ao longo do tempo. Segundo a teoria do “Rent Gap” de Neil Smith (1979), o investimento inicial vai sendo superado por uma renda potencial futura em ascensão (renda invisível em ascensão), tornando altamente lucrativo investir no centro histórico das cidades.

Estes mecanismos acabam por desencadear fenómenos segregação socio-espacial e exclusão destes bairros da população com condições económicas mais desfavorecidas.

Por outro lado, o processo de gentrificação mais focado nas mudanças da estrutura demográfica, cultural e socio-profissional dos novos moradores, definindo-se assim novos perfis de “gentrifier”. Nota-se uma emergência de novos estilos de vida, valores e padrões de consumo, isto é, uma sociedade que valoriza cada vez mais o bem-estar e aprecia a vida como se fosse uma “obra de arte” – Estetização da vida social. Agrupam-se nestes bairros moradores ligados às artes, à publicidade, ao design, à moda, à cultura, imagem e marketing, arquitetura e decoração, entre outras.


3- Hoje em dia verifica-se uma reestruturação funcional das cidades, verificando-se uma predominância do turismo (“gentrificação turística”), dominando assim as funções urbanas (turistificação do centro histórico).

Para além disso, o aumento do preço da habitação nestes espaços mais centrais tem “empurrado” para fora destes bairros os moradores originais, através de despejo (desalojamento direto). Por outro lado, há um desalojamento indireto, uma vez que as famílias com baixo estatuto socio-económico não conseguem ir morar para lá, por não ser possível suportar o valor das rendas (segregação social).

O que predomina nestes bairros são restaurantes/bares, lojas para visitantes e turistas e o aumento muito significativo de alojamento turístico (AL) combinado com o crescimento da procura turística do nosso país.

Os novos moradores (gentrifiers) nos bairros do centro histórico são ligados à cultura, à música, às artes, à publicidade, à moda, arquitetura e que encontram naqueles espaços um novo modo/estilo de vida, ligado ao consumo e bem-estar. Estes novos moradores interessam-se pela identidade dos bairros antigos, não se identificando de todo com os subúrbios. São essencialmente pessoas que moram sozinhas ou casais sem filhos, em início de carreira profissional que valorizam a facilidade de acesso ao CBD, valoriza a quantidade e diversidade de espaços culturais, a proximidade a outras pessoas com as quais se identifica.


Fotografia de Claudemiro Cadete
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Claudemiro Cadete - Quinta, 24 de Março de 2022 às 19:45
 

1- Dê uma definição de gentrificação, caracterizando o processo.

Pessoalmente entendo a gentrificação como um fenómeno urbano de mudança que vem ocorrendo em espaços mais centrais de uma “cidade moderna” e que promove fortes alterações funcionais e de vivências socio-habitacionais resultando numa melhoria em termos de arquitetura urbana assim como de estatuto social, tendo como resultado uma “cidade pós-moderna” cada vez mais adaptada a um mundo de vivências mais globais.

É um processo dinâmico que começa, na maioria das situações, nos bairros urbanos mais históricos mas que se vai expandindo para outros espaços sempre tendo em conta uma valorização económica dos seus edifícios e funcionalidades que vão evoluindo como se de um ser vivo se tratasse e que se vai adaptando às novas vivências sociais de cada urbe.

Esta dinâmica foi evoluindo em várias fases temporais o que pode levar a pensar que irá continuar a ocorrer na “cidade do futuro” – e, se conseguir promover um equilíbrio funcional (positivo) nos espaços urbanos que hão-de advir – não criando grandes desigualdades sociais (será esta ideia utópica num futuro a longo prazo?), poderá ser um processo de mutação urbanística bem-vindo e, talvez, indispensável!

 

2- Distinga os dois blocos teóricos que explicam a gentrificação (oferta/produção vs. procura/consumo).

 

Há que ter em conta que os dois blocos teóricos que explicam a gentrificação partem de bases diferentes:

·         o “radical” suportado por ideias “naturais e deterministas” justificando que os gentrifiers são de uma classe mais alta - que aproveitou o facto de terem aparecido nos bairros mais antigos edifícios desvalorizados devido à sua contínua degradação física que foram comprados por baixo preço principalmente por empresários/construtores imobiliários que os recuperaram e por conseguinte os valorizaram (o preço destes imóveis esteve em “stand by” e mesmo a desvalorizar– teoria do Rent Gap de Neil Smith – pois após a fase de desinvestimento ocorreu uma descida do seu valor), mas logo que se deu um investimento a renda locativa voltou a subir – tendo como motor e dinamizador a gentrificação. Ocorreu uma oferta de edifícios após a reabilitação dos mesmos – produção e a classe “superior”, economicamente falando, acabou por dominar nessa área urbana ao comprar os imóveis;

·         o “humanista” que tem por fundo aspetos mais sociais e culturais baseado nas caraterísticas dos gentrifiers que pretendem habitar locais mais modernos associados a estilos de vida mais criativos, de profissões mais liberais, artísticas – que lhes incuta uma distinção social de outras classes sociais digamos, ”vulgares” – que os promova socialmente – daí procurarem morar em locais valorizados pela sua história e arquitetura ou mesmo pela suas funcionalidades artísticas e culturais e de espaços de lazer (sobretudo noturnos) – como é o exemplo do Bairro Alto. Sendo maioritariamente jovens/adultos celibatários e com poder económico não se coíbem de habitar edifícios pouco espaçosos e caros – mas que os satisfazem socialmente e que, ao mesmo tempo, não deixam de ser um investimento futuro (consumo).

 

3- Explique em que medida a reestruturação económica nas cidades (desindustrialização, terciarização, cultura de consumo,...) explica o surgimento dos novos moradores (gentrifiers) nos bairros do centro histórico.

 

Na sua fase de crescimento urbano a grande “cidade moderna” teve um crescimento suburbano com descentralização de atividades e funções quem devido a vários fatores – grande necessidade de ocupação de espaço, poluição descomunal, forte congestionamento de trânsito, desenvolvimento dos transportes urbanos para áreas periféricas, terciarização diferenciada segundo o valor da renda locativa, entre outros –, modificou a “paisagem  funcional” quer no seu centro – histórico e CBD – com o desaparecimento de muitas atividades numa primeira fase e substituição de outras mais adaptadas às novas realidades (terciário superior, turismo…), mantendo apesar de tudo uma relativa importância da função residencial com uma população cada vez mais envelhecida e a usufruir de rendas “simpáticas” mesmo com a valorização crescente da renda locativa; quer nas novas áreas suburbanas, onde o crescimento em “mancha de óleo” ocorreu de uma forma maioritariamente desordenada e sem uma preocupação sustentável – com indústrias e bairros habitacionais a surgirem sem o devido planeamento que deveria ter tido em conta o bem estar coletivo – criando muitas áreas pouco aprazíveis e “saturantes” estética e socialmente.

Ora a gentrificação ocorre numa cidade “pós moderna” que se opõe à ideia do crescimento suburbano desequilibrado e visto como um processo urbano negativo. Os gentrifiers procuram os locais com caraterísticas opostas a esses locais “marginais” – que sejam arquitetonicamente mais aprazíveis e com valor histórico e, que lhes permitam estar em contacto com a arte, a cultura, o lazer e perto dos seus locais de trabalho. O centro histórico tem isso tudo – até a própria malha urbana e a arquitetura dos edifícios valoriza esse nicho espacial citadino – aumentando o bem estar desses “novos” moradores. A recente tendência para a turistificação e a resistência de alguns (poucos) moradores mais antigos também produz um misto de novas dinâmicas vivenciais misturando a dinâmica miscigenada de uma população flutuante e “sempre nova” com outra que faz da proximidade e dos afetos a sua base. O gentrifier valoriza todos estes aspetos e prefere viver em locais históricos como o Bairro Alto, Alfama ou a Mouraria em detrimento de locais mais periféricos que não o valorizam socialmente. Desde que tenha poder de compra para adquirir o edifício reabilitado escolhe viver nestes locais.


Fotografia de Olívia Couto
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Olívia Couto - Sábado, 26 de Março de 2022 às 22:44
 

1 - A gentrificação corresponde ao processo de transformação do espaço urbano, onde a população, modesta de um bairro popular e antigo, é substituída por novos habitantes com rendimentos mais elevados, “nobilitação urbana”, segundo Teresa Barata Salgueiro. O termo “gentrification” deriva da palavra “gentry” sinónimo de “pequena nobreza” ou “pequena aristocracia”.

Mas este conceito é mais complexo do que acabei de definir no parágrafo anterior. Esta transformação urbana inicia-se como consequência das grandes alterações económicas que foram ocorrendo nos espaços urbanos de países ocidentais de economia capitalista, nos finais dos anos 60, início dos 70.

Também em Portugal o fenómeno viria a ter importância, e temos como exemplo a cidade de Lisboa. Ao longo das décadas de 70 e 80 dá-se a suburbanização, processo de crescimento urbano à volta das cidades, esta expansão para a periferia faz-se muito à volta dos principais eixos de transporte, rodoviários e ferroviários. Assiste-se assim ao despovoamento e envelhecimento demográfico dos centros antigos das cidades. Para este fenómeno contribui também o mercado imobiliário na altura.

Nas últimas décadas o mercado imobiliário tem sofrido transformações que, por sua vez, tem reflexos na organização do espaço urbano. As áreas antigas das cidades, os seus bairros, voltam a ter maior valor, havendo a reabilitação destes sítios antigos e as áreas que estavam pouco ocupadas voltam a ser reocupadas. Temos como exemplo o Bairro Alto. Há uma mudança na estrutura social, de um grupo social por outro de estatuto mais elevado. Os indivíduos “novos ocupantes” têm estilos de vida semelhantes, a maioria já vivia na cidade, não é um retorno da periferia. A “nova” população tem uma formação superior ou intermédia, profissões científicas ou técnicas, artistas, jornalistas, arquitetos etc. Estão também associados a uma diferente cultura de consumo. Assim também a nível funcional se verificam mudanças, havendo uma transformação do ambiente construído e da paisagem urbana, com a criação de novos serviços e uma requalificação residencial com melhorias a nível da arquitetura. Como consequência destas transformações também a nível fundiário há um aumento do valor do terreno e um aumento da quota das habitações em propriedade.

 2 - Tem-se assistido a diferentes fases do estudo das transformações ocorridas no espaço urbano e do fenómeno da gentrificação. Uma das fases centrou-se nas esferas da produção e do consumo.

A teoria que sustenta a Oferta /produção dá importância ao capital e aos diversos agentes institucionais, o Estado, o Poder Local, Bancos e outras instituições financeiras. Esta teoria sustenta a primazia da produção, ou seja, a gentrificação dá-se devido ao movimento de capital e tem que haver oferta. O desenvolvimento do capitalismo conduziu à superprodução de determinados bens, o que provocou a quebra dos lucros. Passa a haver uma crise no domínio da produção, que será atenuada por intermédio de novas oportunidades e de novos investimentos como o imobiliário, conduzindo a uma valorização /desvalorização do espaço urbano (segundo Neil Smith). Com o crescimento da cidade para a periferia, aumenta o valor do solo dos subúrbios. Dá-se o crescimento das construções e infraestruturas, bem como o aumento e diversificação das atividades. Ao mesmo tempo vai-se deixando de investir nas áreas centrais, despovoadas, e o parque habitacional vai-se degradando. No centro antigo acentua-se a diferença entre a atual renda capitalizada dado o presente uso do seu solo, e a renda que potencialmente poderá vir a ser capitalizada. Mas há um momento em que faz sentido o capital voltar ao centro da cidade, pois o lucro que se irá fazer da venda e revenda desses edifícios no centro será maior, tornando-se altamente lucrativo voltar a investir no centro da cidade. Foi o que aconteceu nos bairros antigos de Lisboa. Atualmente o deferencial está a diminuir pois no centro histórico já há poucas propriedades para serem reabilitadas. Há um movimento cíclico de capital, vai-se investindo e vai-se desinvestindo.

A outra teoria privilegia o consumo em detrimento da oferta ou da produção, pois entende-se que a gentrificação é uma consequência das mudanças verificadas na estrutura demográfica e social da população e no estilo de vida de certos setores da classe média, e nos valores de consumo a ele associados. A gentrificação conduz a uma valorização do espaço urbano antigo, com um registo mais estético, simbólico e cultural. Ao haver mudanças na estrutura demográfica, mudanças nos valores, no estilo de vida da população, tem como consequência potenciar novas procuras, aumentando o valor do solo e do imobiliário nesses lugares.

 3 - As cidades do mundo ocidental vão passando por mudanças a nível económico, a nível funcional, bem como na sua estrutura urbana e na composição sociocultural.

Ao longo de décadas do sec XX vai ocorrendo a desindustrialização dos espaços urbanos, e essa função industrial vai sendo substituída por atividades terciárias, substituindo-se os espaços de produção pelos espaços de serviços e de lazer da população. Vão-se verificando mudanças a nível demográfico e social, um estrato social superior, com maior rendimento e mais qualificado. O diferente estilo de vida potência novas procuras, a economia do consumo está a sobrepor-se a uma economia de trabalho e esforço. As atividades relacionadas com a cultura e o lazer crescem, havendo uma distinção social destes consumidores que ocupam as áreas antigas. Temos assim indivíduos que, acham genuíno e têm uma visão mais humanizada da cidade, gostam dos bairros típicos, das artes, recusando viver nos subúrbios. A população gosta de viver nos bairros típicos e de se misturar com a população que sempre aí viveu, ocupando os espaços que vão ficando vazios e reabilitando-os. Mas a gentrificação começa a aumentar cada vez mais, valorizando-se os imóveis e o solo. Por fim há fundos de investimento, mesmo a nível internacional, o objetivo é reabilitar para classes com maiores rendimentos e conseguir grandes lucros.


Fotografia de Adolfo Torres
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Adolfo Torres - Quarta, 30 de Março de 2022 às 16:08
 

1 – A gentrificação consiste na substituição das áreas residências dos centros /núcleos mais antigos das cidades ou partes de cidades, por classes de nível social e económico mais elevado. Esta substituição acontece com reabilitação urbana, uma vez que o espaço envolvente ou espaço público, que não apenas o parque habitacional, sofre alterações, melhoramentos, novas utilizações. A gentrificação, no fundo, é um processo de novos ocupantes das áreas residenciais em núcleos antigos, por parte de classes sociais abastadas que a par do “charme” de viver nessas áreas e da elevada possibilidade económica, passam a habitar áreas renovadas, reabilitadas, muitas vezes regeneradas e que só estão ao alcance de classes sociais com elevado poder económico.

O processo de gentrificação é global, existe um pouco por toda a parte, várias cidades em Portugal e em muitos países do mundo, nomeadamente no chamado mundo ocidental capitalista, onde o processo de substituição das classes sociais mais poderosas economicamente se faz através dos processos que regulam as leis de mercado da oferta e da procura, com substituição, quer de funções, quer das classes sociais que ocupam as áreas residenciais.

 

2 – Assiste-se ao fenómeno da gentrificação, no caso da cidade de Lisboa, vários locais/núcleos ou centros. Um dos exemplos que recorro com frequência nas minhas aulas, é o da área de Alcântara, onde existiam vários bairros operários, mão-de-obra das fábricas que ali se localizavam. Não só. Também era mão-de-obra que alimentava o número de postos de trabalho crescentes no comércio e serviços da cidade de Lisboa.

Com o desenvolvimento dos transportes e consequente deslocalização das fábricas para outras paragens, fora do perímetro urbano da cidade (fábricas da Progresso Mecânica, da Regina, do sabão – hoje embaixada de Angola) estes bairros que ali existiam foram ficando degradados, pelo passar do tempo e porque as pessoas que viveram esses bairros, viveram neles e viveram-nos, nas múltiplas atividades comerciais, culturais e que por isso a eles dedicaram vida, umas pessoas  morreram, outras ficaram demasiado idosas e sem mobilidade. As casas ou edifícios, bairros inteiros, acompanharam este declínio. Degradaram-se! No fundo, estes espaços que já não servem o tecido industrial da cidade, deslocalizado, modernizado e até inexistente, deu lugar a vastas áreas de abandono residencial, perto do centro da cidade, ou eles próprios, depois de reabilitados, novos centros, junto a vias de acesso (Ponte 25 de Abril, por exemplo) com privilégios nas acessibilidades, quer ao centro da cidade, quer para fora da mesma, foram um conjunto de características que possibilitou a que grupos económicos de grande capital não tardasse em renovar, transformar os bairros operários do Alto de Santo Amaro em Alcântara, em luxuosos condomínios privados. Vedados à rua e exclusivos a uma classe social que domina e se domina pela posse de capital. Ocorreu a nobilitação destes espaços como fenómeno de serem ocupados por residências de mais elevado nível social.

Aqui assistimos a uma teoria da gentrificação baseada na “produção/oferta”, defendida pela Geografia Radical e Marxista, associado a ciclos de poder económico em que surge como resposta ao processo que o poder económico corporiza. Existiu deslocalização industrial e com ela uma crescente oferta imobiliária nas periferias da cidade.

Mudam-se os tempos, mudam-se os ocupantes…. Viver no centro, no âmago de um bairro operário com varandas vista Tejo e traseiras com court de ténis, passou a ser um estatuto que culmina com a piscina no topo do telhado, bem como alimentado pela videovigilância e garagem privativa. Repare-se, em Lisboa, a cinco minutos do acesso à A2 e a dez minutos a pé das Docas em Alcântara. Luxo! Luxo, mas não deixando de ser uma área residencial, só não estamos a falar de “novos operários”. Esses foram os que morreram no e com o bairro. Os seus filhos, filhos de uma classe operária de cariz assalariada, foi alimentando a ideia de ascensão social por conseguir um apartamento na linha de Sintra, em Odivelas ou em muitos casos na Margem Sul do Tejo.

Ganhávamos nas áreas das casas, perdíamos tempo nas deslocações até ao trabalho, maior parte das vezes nos serviços e no comércio da cidade onde os novos habitantes do bairro, agora fazem compras. A substituição das classes sociais que ocupam o espaço residencial, relegando para a periferia os que menos ganham e que menos podem pagar pelas rendas neste tipo de espaço da cidade. Verifica-se uma luta de classes na ocupação do espaço urbano. Vence o poder económico…

Na segunda teoria, “procura/consumo” de visão humanista, baseia-se nas relações de proximidade, fundamentando a gentrificação numa mistura entre os “locais” e os gentrifiers, estes procuram os sítios pelo charme e pela estitização de vida social, associada a uma cultura de consumo. Os novos habitantes com características muito próprias onde a economia de consumo se sobrepõe à economia de trabalho. Os novos habitantes destes bairros não são operários, mas gostam da mistificação de partilhar e conviver com estes. São pessoas ligadas à arte, aos negócios, à música e vida noturna, às tendências de vida urbana como estatuto social e de cariz muitas vezes ambientalista. Abdicam de carro próprio, deslocam-se nos transportes públicos e vivem nos lugares a que eles próprios chamam de centro, criando assim novos centros, novas áreas gentrificadas. A gentrificação surge assim polarizada pelas cidades, motivada “pelas procuras” que fazem aumentar o consumo destes bairros com História, com estórias e vivências. Experimenta-se a gastronomia local, o cheiro da sardinha assada na rua e a boémia do “marialva” lisboeta, tudo misturado com os consumidores de vidas noturnas e de restaurantes “Nouvelle Cuisine” ou de conceitos de alimentação globalizada, que vai desde um Nepalês à Pizza Italiana, entre outros vastíssimos exemplos.

 

3 – As cidades vão perdendo o seu tecido industrial com substituição de funções dentro do espaço urbano, dando lugar ao setor terciário, cada vez mais diversificado e voltado a uma cultura do consumo. Este fenómeno explica o surgimento de novos moradores, tal como disse na pergunta anterior, os gentrifiers vivenciam a cidade! São parte da sua singularidade em cada beco ou recanto ímpar de Lisboa e com especial destaque no Bairro Alto. Apesar da Planta Ortogonal, os acessos em escadinhas, de ruas em que as varandas quase se tocam dum lado e do outro das ruas, fazem destes espaços lugares únicos e especiais. A cidade volta-se ao turista e todas as estruturas comerciais tradicionais dão lugar a atividades económicas para atrair, captar e fixar turistas. Este fenómeno de turistificação das cidades (dos vários centros das cidades) que passam a estar voltadas para o turista que se confunde, e muitas vezes é, ele próprio, um gentrifier.

Verificamos então as tendências recentes da gentrificação: I) ultrapassou o centro histórico das cidades, existem vários polos onde a mesma se verifica; II) Passou a ser sistémica e não casual, ocorre um pouco por toda a parte do mundo ocidental e sofre de ciclos de crescimento e declínio; III) A gentrificação é comercial, estilizada, sofisticada, ocupada por gente que frequenta galerias de arte e locais de estatuto social e cultural elevado; IV) Existe gentrificação turística, em que o turista é um novo “ocupante” da cidade e muitas casas passaram a ser locais de Alojamento Local e V) A gentrificação é moral, as áreas onde outrora existiram bairros habitacionais da classe trabalhadora, como é o caso do Bairro Alto, passou a ser uma área ocupada por novas pessoas que vivem e experienciam a cidade na ótica do utilizador e não na ótica do construtor.

Isto acontece porque o desenvolvimento dos transportes permite que a classe operária habite na periferia de Lisboa, a produção industrial é globalizada, e a densidade da rede de transportes permite que os trabalhadores do comércio e serviços vivam fora da cidade, deixando esses lugares, renovados, regenerados, para novos habitantes com estilos de vida urbanos e que simbolizam uma cultura de consumo com estetização da vida social que ocorre dentro da cidade.

A cidade de Lisboa oferece uma particularidade, em que os gentrifiers e os “locais” convivam, frequentem os mesmos espaços, sobretudo na diversão noturna. Mas há uma marca que os distingue, o poder económico associado à turistificação que os novos centros da cidade oferecem, estão apenas ao alcance dos turistas e dos frequentadores (novos ocupantes das cidades), uma vez que os outros continuam a ser classe trabalhadora, assalariada e que faz parte da estrutura (renovada e adaptada) que existe para servir a crescente terciarização dos espaços da cidade, quase sempre bairros antigos de origem e índole operária da cidade de Lisboa.



Fotografia de Lilian Neto
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Lilian Neto - Quinta, 31 de Março de 2022 às 23:13
 

1.      Dê uma definição de gentrificação, caracterizando o processo.

O conceito de gentrificação designa um processo relacionado com a mobilidade residencial de pessoas de classes económicas mais favorecidas para bairros populares/ históricos que, pela sua centralidade e pelas suas características, se tornam atrativos e são alvo de um reinvestimento no edificado (através de ações de reabilitação e requalificação urbana). Este processo provoca, de forma mais ou menos direta, a substituição do grupo social mais vulnerável e desprotegido que ali residia (arrendatários de baixos recursos, imigrantes, idosos…) por novos residentes de maior estatuto económico e com características socioculturais distintas. Dá-se, portanto, uma reconfiguração social e habitacional desses bairros, verificando-se uma valorização imobiliária da área que impede a população com menores recursos de continuar a residir nos mesmos, multiplicando-se, assim, as ações de despejo por parte dos proprietários/investidores que veem no património edificado uma excelente oportunidade de rentabilização económica.

Contudo, este fenómeno não se ficou pelos bairros históricos, sendo que a tendência é para se intensificar e estender para áreas mais afastadas, e também não se restringiu apenas à função residencial, verificando-se alterações significativas relacionadas com o setor do comércio (as lojas tradicionais são substituídas por lojas “trendy” ou outros negócios capazes de suportar os aumentos escandalosos das rendas) e do turismo (que “invadiu” os bairros mais típicos, pressionando quem lá mora a sair).

2.      Distinga os dois blocos teóricos que explicam a gentrificação (oferta/produção vs. procura/consumo).

Na perspetiva da Oferta/Produção, a gentrificação associa-se à oferta imobiliária e ao movimento e circulação de capital que esta gera, explicando-se este processo através do ciclo de valorização/ desvalorização do solo urbano em determinadas áreas. A teoria de “Rent Gap” apresentada por Neil Smith em 1979, enquadra-se nesta perspetiva, tendo o seu autor defendido que, à medida que o tempo avança e que o edificado se vai degradando nas áreas centrais, estas se vão desvalorizando, verificando-se uma transferência de capital para os subúrbios que se tornam mais atrativos para a população e atividades económicas. Deste modo, passa-se a investir cada vez menos na manutenção e reabilitação da habitação nas áreas centrais e muitos edifícios ficam vazios, devolutos ou ocupados por população de baixos recursos. A renda locativa nas áreas centrais vai diminuindo, mas há um potencial de renda que vai aumentando gerando-se, assim, um desfasamento entre a renda real e a renda potencial a que o autor chama “rent gap”. Posteriormente, passa a fazer sentido o capital voltar ao centro da cidade e torna-se altamente lucrativo investir na reabilitação do parque habitacional, o que provoca a subida da renda locativa e um fluxo de pessoas de classes económicas mais favorecidas que se vão instalando nas áreas centrais, dando origem ao fenómeno de gentrificação.

Quanto à segunda teoria – Procura/Consumo – esta associa a gentrificação a uma perspetiva menos económica e mais humanista, resultando de alterações na estrutura demográfica, cultural e socioprofissional dos gentrifiers. Estes pretendem viver em meios mais criativos, boémios, e estão muitas vezes ligados a profissões artísticas e liberais valorizando determinados produtos imobiliários presentes em áreas específicas da cidade, o que lhes confere uma “estetização” da sua vida social. Privilegiam, assim, os bairros históricos como o Bairro Alto e, quando estes bairros “entram na moda”, inicia-se o processo de gentrificação.

 

3.      Explique em que medida a reestruturação económica nas cidades (desindustrialização, terciarização, cultura de consumo, ,...) explica o surgimento dos novos moradores (gentrifiers) nos bairros do centro histórico.

 As cidades, como espaços dinâmicos e complexos que são, foram registando profundas alterações económicas, acompanhadas de mudanças ao nível da composição social e profissional da sua população. Assistiu-se a um progressivo processo de desindustrialização dos espaços urbanos nas últimas décadas registando-se, inversamente, um crescimento significativo das atividades terciárias e de lazer que empregam cada vez mais população e mais qualificada, o que funciona como um fator potenciador da gentrificação.

Nas últimas décadas, as cidades expandiram-se para a periferia onde se deu uma enorme dinâmica da construção imobiliária que cumpre os requisitos da procura. Os centros históricos foram-se degradando e perdendo residentes, acabando por ali permanecer os setores sociais com menores recursos económicos. No entanto, ultimamente, deu-se uma inversão deste movimento, ainda que não massivo, verificando-se que alguns grupos restritos, muitas vezes ligados ao seio artístico, cultural, intelectual, se deslocam para os bairros históricos, reabilitando habitações que remetem para um determinado imaginário e recusando completamente os subúrbios. Estes novos residentes designados de uma “nova classe média” são aqueles que privilegiam a economia de consumo em detrimento da economia do trabalho e do esforço, pelo que se preocupa com a estetização da sua vida social também através do lugar onde vive. Esta chegada de novos residentes irá espoletar o fenómeno de gentrificação nestes bairros.

Fotografia de Michel Rombert
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Michel Rombert - Sexta, 1 de Abril de 2022 às 10:43
 

1- Dê uma definição de gentrificação, caracterizando o processo.

A gentrificação é um processo de transformação e valorização imobiliária de uma zona urbana, que acarreta a substituição do tecido socioeconómico existente (geralmente constituído por populações envelhecidas e com pouco poder de compra, comércio tradicional, etc.), por outro economicamente mais favorecido, e que geralmente não apresenta condutas de pertença ao lugar. O processo contextualiza-se no seio de uma ampla recomposição sociodemográfica, traduzindo-se na constituição de uma suposta “nova classe”, que se diferencia da classe média tradicional, existente naquele espaço, e que poderá estar  ligada às indústrias culturais, às artes, à publicidade, ao design, à moda, à cultura, imagem e marketing, arquitetura e decoração, entre outras, que surgem de um novo contexto de valorização da urbanidade segundo moldes e formas culturais de consumo e do crescimento de atividades de produção simbólica, assim como na afirmação de uma tendência de estetização da vida social.

2- Distinga os dois blocos teóricos que explicam a gentrificação (oferta/produção vs. procura/consumo).

As teorias baseiam-se num princípio de uma crescente terciarização, e de uma emergência de um novo modelo de acumulação capitalista, mais flexível, que reconhece no (re)investimento no centro histórico de capital imobiliário, e na sua circulação, uma mais-valia.

Ambas as teorias acabaram por sofrer uma evolução diferente, procurando, cada uma delas, privilegiar uma em relação à outra no estudo da gentrificação. As primeiras procuraram salientar a importância do capital e dos agentes institucionais (Estado, Poder Local, Bancos e outras instituições financeiras), no processo de reestruturação do espaço urbano, enquanto as segundas, privilegiaram o consumo relativamente à produção, no mercado da habitação e do solo urbano. 

As teorias que sustentam a primazia da produção fazem derivar o processo de nobilitação urbana do movimento e circulação de capital nas áreas urbanas, procurando explicar este processo através da desvalorização que sofre o solo urbano, face ao rendimento que um novo investimento poderia ter. Por seu turno, as teorias que privilegiam o consumo, entendem a nobilitação urbana como consequência direta das mudanças verificadas na estrutura demográfica e social da população e no estilo de vida de certos sectores da classe média, nos valores e padrões de consumo a ele associados.

3- Explique em que medida a reestruturação económica nas cidades (desindustrialização, terciarização, cultura de consumo,...) explica o surgimento dos novos moradores (gentrifiers) nos bairros do centro histórico.

Verificamos que após a desindustrialização e do processo centrifuga dos centros urbanos, com a banalização e normalização dos subúrbios, estes começaram a ser vistos como algo negativo. Muitos habitantes, começaram a valorizar a proximidade com o local de trabalho, por exercer a sua atividade no C.B.D., assim como a paixão pela memória e história dos bairros tradicionais, a existência de equipamentos culturais importantes e a estetização da vida social. A distinção social pela ocupação deste território vai dar origem a uma nova ordem do espaço urbano, população que é protagonista de um movimento de recentralização que redescobre no valor histórico e/ou arquitetónico dos bairros a capacidade de se reinventar social e culturalmente, uma concentração de indivíduos com características muito particulares, tais como, artistas, jornalistas, entre outros, vão considerar que residir nesses bairros históricos, fica bem, tendo como consequência um processo de segregação e elitização desses espaços urbanos, e profundas alterações no seu tecido social com a chegada de novos moradores, portadores de um estilo de vida próprio, e com a introdução de novos espaços comerciais direcionados para novos públicos, adeptos de conceitos culturais alternativos.

Fotografia de Ângela Gordo
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Ângela Gordo - Sexta, 1 de Abril de 2022 às 21:10
 

Boa noite,

Segue em anexo a resposta às questões da atividade 1.

Maria Angela Gordo

Fotografia de Sílvia Gomes
Re: Fórum 1 - O que é a gentrificação?
por Sílvia Gomes - Sexta, 15 de Abril de 2022 às 12:14
 

A minha resposta encontra-se no ficheiro em anexo.