1) DEFINIÇÃO DE “GENTRIFICAÇÃO”, CARACTERISTICAS DO
PROCESSO:
De uma maneira muito simples, entende-se por “ gentrificação”
a alteração/substituição nas áreas residenciais dos centros históricos das
classes que inicialmente as ocupavam, mais baixas, por classes sociais mais
altas, nomeadamente as da média-alta.
Este processo foi dando-se de uma forma gradativa, fruto da
também necessária regeneração urbana, mas acima de tudo, por um aumento do interesse
por parte de novos atores urbanos, que encontraram nestas áreas centrais da
cidade , “ spots” de convívio bastante
seletivos, do seu maior interesse, das suas aspirações, com vista a autopromoverem-se
socialmente, profissionalmente, etc. Estas áreas passaram a representar
emocionalmente um conjunto de mais-valias distintas. Dessas destacam-se a
proximidade dos serviços, dos eventos culturais, das suas tribos urbanas e da fácil
locomoção. Não menos importante, a convicção de uma distinção social, ( status)
conotado com o sítio antigo onde residem. Esta recentralização seletiva permite aos seus
atores manter a proximidade cultural e social com os seus semelhantes.
Ainda que positivo do ponto de vista urbanístico, pela
melhoria do edificado e da paisagem urbana, a Gentrificação alterou o espaço
social, cultural e económico, de alguns bairros, descaracterizando a identidade
tradicional que os distinguia. Desenraizou os seus habitantes e criou problemas
sociais de exclusão, que deveriam ter sido acautelados, nomeadamente os
despejos e o assédio. Para além disso, gerou uma inflação brutal no preço do
solo urbano e alterou a estrutura fundiária, havendo a proliferação de habitações
pequenas ( T1 e T0) que sobrecarrega os espaços envolventes.
A Gentrificação pouco contribuiu para o rejuvenescimento da
população residente( rejuvenescimento parcial). Os gentrifiers já viviam na cidade.
São jovens adultos, em início de vida, com profissões bem remuneradas e que
defendem uma higiene social, que os individualiza num pequeno espaço urbano.
2) DISTINÇÃO DOS BLOCOS TEÓRICOS QUE EXPLICAM A GENTRIFICAÇÃO
( OFERTA/PRODUÇÃO)
VS. ( PROCURA/CONSUMO)
A Gentrificação surgiu porque havia um conjunto de espaços
nos centros históricos altamente degradados, devolutos, que foram durante muito
tempo desvalorizados. O espaço periférico era, até então, mais atrativo pela
maior oferta de espaço, habitações mais amplas, maiores áreas, e a presença de
alguma minorias desvirtuava o interesse pelas áreas centrais.
As teorias explicativas da Gentrificação distinguem-se na teoria
da “ produção/ oferta” ( Geografia radical) e na teoria “procura/consumo” (
Geografia humanista).
Na primeira, a Gentrificação surge como resultado de um
processo ecológico-urbano. Os espaços devolutos,
a fuga das indústrias e a crescente oferta imobiliária, com aposta na
reabilitação, criam um potencial para Gentrificação.
A crescente oferta, disponibilizada pelos construtores imobiliários, motivada
pelos interesses económicos da sobrevalorização do espaço urbano, abriram caminho
para a Gentrificação - fase “adolescente”.
Numa espécie de luta de classes, o preço elevado do solo dos
lugares centrais acrescido dos investimentos imobiliários a nível dos
materiais, do conforto, exclusividade e o enamoramento destes espaços da cidade
pelos novos atores, criam uma disputa em que aquele com maior capacidade
financeira, ganha. ( desagregação)
Na segunda, com base no consumo/novas procuras, ocorrem não
só mudanças na estrutura demográfica, mas também na estrutura cultural dos
gentrifiers. Há uma crescente procura por parte dos interessados, em
determinados pontos ou bairros específicos da cidade, a par com a estetização
da sua vida social, que lhes dá prestígio socialmente - consumo. Ou seja, a Gentrificação
passa a ser espoletada não pela vasta oferta imobiliária, mas pela crescente procura
dos novos agentes invasores, que a trote de um estilo de vida selecto,
exclusivo, distinto do ponto de vista cultural, encontram na apropriação destes
espaços residenciais a projeção da chamada “ estetização da vida social”.
Surge um perfil de gentrifier jovem adulto, culto, de classe
nobre, que procura determinados estilos de vida. Alguém que valoriza a
segurança, a tolerância, a diversidade, mas que apresenta igualmente um apego emocional
à cidade , pela sua localização geográfica, clima, pelas gentes que as ocupam ,
juntamente com o desejo de viver aqueles espaços “artisticamente”.
3) EXPLICAR EM QUE MEDIDA A REESTRUTURAÇÃO ECONÓMICA ( DESINDUSTRIALIZAÇÃO, TERCIARIZAÇÃO, CULTURA
DO CONSUMO) EXPLICA O SURGIMENTO DE NOVOS MORADORES/GENTRIFIERS NOS BAIRROS DO
CENTRO HISTÓRICO.
Por razões que já conhecemos, a dada altura, os espaços
urbanos centrais conheceram uma certa desvalorização em resultado da migração
das indústrias para as áreas periféricas ou metropolitanas da cidade e pela
valorização da própria população pelos subúrbios. A Indústria precisando de mais
espaço, acesso às principais vias de comunicação e também por questões
ambientais, deslocou-se criando espaços vazios, que passaram a ser menos
valorizados – RENT GAP.
Esta situação, levou a um profundo interesse pela
reestruturação destes espaços, abrindo espaço para o aumento do investimento
nesta área, com vista a ganhos financeiros elevados. Naturalmente, surgiu uma
restruturação seletiva, com base na renda, que se traduziu demográfica e
economicamente, por classes sociais mais elevadas, elitizadas e a multiplicação
de atividades terciárias.
O aumento do interesse pelos “ sítios antigos” surgiu num
certo grupo de pessoas que não se identifica com os subúrbios. Valoriza o
carisma, a circulação no espaço central, valoriza os contactos culturais, a
proximidade a tribos urbanas com as quais se identifica e, que nelas reconhece
a concretização da sua realização pessoal. É um grupo com um estilo de vida
muito próprio, boémio, que procura uma localização privilegiada como marca
social e reconhece nesses bairros a
oportunidade de se reinventarem. São pessoas isoladas, casais sem filhos, novos,
em início de vida, profissionalmente bem remunerados, artistas… .
Estes novos moradores
dos bairros históricos alteram gradualmente o espaço, quer ao nível da materialização
dos espaços ( comércio) , quer ao nível das vivências, pois criam nichos
sociais próprios, associados à crescente valorização desse estilo de vida. Com efeito, verifica-se uma crescente procura
destes espaços ( consumo) devido à
valorização estética e social que proporciona. Assim, assiste-se a uma
substituição demográfica e social destes bairros típicos, com novos moradores,
ou “ gentrifiers”.