Bom dia!
Partilho as respostas relativas ao primeiro fórum.
Obrigada.
1. A gentrificação, também designada
nobilitação urbana, é o fenómeno particularmente sentido nas cidades dos países
mais desenvolvidos, que se caracteriza pela modificação do espaço urbano resultante
do enobrecimento dos bairros do centro da cidade. Este processo afeta as
classes de menores recursos aí residentes, que são progressivamente
substituídas pelas de estatuto social favorecido, com maior capacidade
económica, mais jovens. Deste processo decorre uma reconfiguração do espaço nos
planos físico, demográfico, social, cultural e funcional. Esta modernização e
revitalização do tecido urbano repercute-se na sua crescente valorização e é
impulsionadora de um assinalável dinamismo económico, mas também causadora de
segregação socioespacial, da intensificação de despejos, quer por uma via
direta ou indireta, e de uma crise habitacional.
2. O desenvolvimento da gentrificação, promotor
de fortes alterações nos bairros históricos das cidades, está indelevelmente
correlacionado com um conjunto de mudanças económicas e sociais, vividas em
particular nos países mais desenvolvidos do mundo ocidental, que são fortemente
influenciados por uma economia assente em princípios capitalistas.
No
decurso do estudo da gentrificação desenvolveram-se teorias explicativas distintas.
Deste
modo, o bloco teórico que explica a gentrificação tendo por base a
oferta/produção salienta que o fenómeno se associa a uma reforma económica.
Assim sendo, num ciclo de elevados níveis de produção, das sociedades
capitalistas mais desenvolvidas, cria-se uma conjuntura em que a oferta supera
a procura, desacelerando os níveis de rentabilidade. A procura do lucro transfere
os investimentos do setor industrial produtivo para o setor da construção, do
imobiliário, dando início a um novo período económico que se tornará modelador
do espaço urbano. A reestruturação espacial associada traduz-se na captação de
capital e expansão urbana dos subúrbios, em oposição aos bairros centrais que
são alvo de uma perda de interesse e desinvestimento. Assim, a degradação a que
estes espaços ficam sujeitos traduz-se num menor valor da renda que lhes é
destinado que fica aquém do valor
potencial, acabando por, dada a sua localização central e face à ocupação do
solo prevalecente, mais tarde lhes vir a conferir uma valorização económica, tornando-os
apelativos a novos investimentos públicos e privados, que originam quer ações
de reabilitação, quer a aquisição de imóveis com o propósito de se verificar um
acréscimo no seu preço, causando especulação imobiliária.
Por sua
vez, a teoria da gentrificação pelo consumo destaca as alterações demográfica,
social e cultural como causa do processo de nobilitação urbana. Assim, uma
classe média, ou média alta, com uma nova composição familiar, academicamente
mais habilitada e maior poder de compra, sente-se atraída pelas oportunidades e
estilo de vida que este espaço central proporciona.
3. A reestruturação económica nas cidades,
materializada através dos processos de desindustrialização, terciarização e de
uma cultura de consumo, que resulta na substituição da indústria por novos
espaços de comércio, serviços e lazer, é indissociável da chegada dos novos
residentes -gentrifiers- ao centro da cidade, onde se operou uma mudança no seu
caráter e na sua espacialidade.
Esta nova
essência dos bairros históricos centrais e as suas atuais características, com
grande variedade e oferta de instituições e espaços de lazer, ou comerciais, tornam-se
atrativas para este novo grupo que tem hábitos de consumo distintos e a pretensão
de uma vida social e culturalmente mais dinâmica. Acresce ainda a alteração na
estrutura da população ativa, pois a terciarização cria postos de trabalho mais
qualificados, apelativos para os gentrifiers.
É todo
este contexto de habitar no centro da cidade, de residir num imóvel histórico
com charme, de aceder a desafiantes e motivadoras ofertas de emprego, de
frequentar determinados espaços comerciais, sociais e culturais ou de ostentar
bens de marcas, valiosos, que promove o sentimento de pertença a esta nova
classe social e, paralelamente, imbuído de simbolismos projeta a imagem de status. Esta nova forma de percecionar,
sentir, estar e viver o espaço urbano é acompanhada, como vimos, de uma nova
relação com o consumo que é reveladora e está na génese de uma diferenciação
social.