Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)

 
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Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Helena Magro - Quinta, 29 de Outubro de 2020 às 13:58
 

Leia o texto de Teresa Barata Salgueiro "Alojamentos turísticos em Lisboa" até à primeira parte da pág. 15 e responda, de forma sintética, às seguintes questões:

1) De acordo com a autora, como se pode definir turistificação? Concorda com esta definição? Porquê?

2) Distinga o turismo contemporâneo (pós-turismo) do turismo massificado da segunda metade do século XX.

3) Transcreva um excerto do texto que evidencie o carácter contraditório da turistificação (aspectos positivos vs. aspectos negativos).

4) Em que medida se pode falar de financeirização da habitação?


Fotografia de Márcia Santos
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Márcia Santos - Segunda, 30 de Novembro de 2020 às 15:03
 

1 – Segundo a autora, turistificação é um processo de mudança causada pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos atores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana. Concordo com a definição sustentada na mudança de paradigma por parte das autoridades públicas, potenciando a “oportunidade” do mercado, esquecendo em alguns casos, a “necessidade” dos habitantes. A massificação do turismo local, embora seja uma alavanca económica, acarreta perdas sociais que, a longo prazo, poderão ser irreparáveis. O conhecimento, a cultura, a transposição de gerações do “bairro” deixará de existir, acabando lentamente com comércio e serviços que não se coadunam com os turistas. Caso não haja um equilíbrio e critérios bem definidos para a turistificação, certas zonas irão deixar de ser “habitadas” para serem apenas “transitadas”.

 

2 - Da comparação entre turismo contemporâneo e o turismo massificado da segunda metade do séc. XX, sobressai claramente a diferença de conceito na procura atual. Assim, ao contrário de uma procura específica e muito bem balizada em períodos de férias e descanso, surge agora uma procura bastante diversificada quer em termos geográficos, quer nos produtos da procura. Passamos desta forma de um turismo claramente caraterizado pela procura de paisagens naturais, criando focos em períodos específicos do ano, para um turismo sem data, que nos levam do negócio, à arte, passando pelo desporto, saúde, entre outras. Urge salientar a alteração evidenciada por Paiva, 2016, em que a procura de elementos naturais como “produto turístico” perdeu praticamente a corrida para um “produto humano e de construção social”.

 

3 - Do texto, posso evidenciar o carácter contraditório da turistificação (aspectos positivos vs. aspectos negativos), através dos seguintes excertos: 

  • "Por um lado, a economia de partilha pressupõe a disponibilidade de um património que muitos não possuem, por outro lado, os mais pobres e vulneráveis perdem com o avanço da turistificação e gentrificação que tendem a expulsá-los das suas casas e bairros. (...);
  • Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. “

 

4 – O conceito de financeirização da habitação está associada ao conceito económico criado e que o imobiliário deixou de ser apenas um ativo particular ou empresarial, mas passou a ser uma ferramenta de investimento financeiro no sentido em que toda a “economia imobiliária” passou por si só a uma economia financeira de acumulação de lucros, transformando-se num importante instrumento financeiro. A procura da rentabilidade, associada aos novos paradigmas do turismo e à especulação imobiliária, transformam o mercado habitacional num apetecível meio de investimento e desenvolvimento económico, ou seja, a utilização de uma “economia real e financeira” em detrimento da exclusividade de uma “economia financeira”. Esta passagem trouxe consigo dificuldades acrescidas, uma vez que o mercado imobiliário não tem características simplistas da economia financeira. A volatilidade dos mercados financeiros, e a sua capacidade de se autorregularem, torna-se mais difícil de espelhar numa “economia real”, em que as habitações existem e os períodos extensos de desenvolvimento, não permitem a rapidez de transações, típicas dos mercados financeiros. Deste modo, o “apetecível” mercado imobiliário como produto financeiro, só o será com consciência temporal do mesmo e respeitando as dinâmicas de alteração urbana e turística de cada local.

Fotografia de Carla Sofia Ferreira
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Carla Sofia Ferreira - Segunda, 30 de Novembro de 2020 às 18:26
 

1. De acordo com Teresa Barata Salgueiro, poder-se-á definir como turistificação um processo de mudança motivado pelo aumento de turistas. Este processo tem impactes no acesso à habitação, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana.

Concordo com a definição apresentada uma vez que há uma mudança de paradigma por parte das autoridades públicas, potenciando a “oportunidade” do mercado, esquecendo em alguns casos, a “necessidade” dos habitantes. A massificação do turismo local, embora seja um estímulo económico, poderá potenciar perdas sociais que, a longo prazo, poderão ser irreparáveis.

2. Da comparação entre turismo contemporâneo e o turismo massificado da segunda metade do séc. XX, evidencia-se a diferença de conceito na procura atual. Deste modo, ao contrário de uma procura específica e muito bem definida em períodos de descanso, surge agora uma procura bastante diversificada quer em termos geográficos, quer nos produtos da procura. Passamos desta forma de um turismo claramente caraterizado pela procura de paisagens naturais, criando focos em períodos específicos do ano, para um turismo sem data, que nos levam do negócio, à arte, passando pelo desporto, saúde, entre outras.

3. " Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. “

4. O conceito de financeirização da habitação passou a ser uma ferramenta de investimento financeiro no sentido em que toda a “economia imobiliária” passou por si só a uma economia financeira de acumulação de lucros, transformando-se num importante instrumento financeiro. A procura da rentabilidade, associada aos novos paradigmas do turismo e à especulação imobiliária, transformam o mercado habitacional num apetecível meio de investimento e desenvolvimento económico.





Fotografia de Ana Catarina Teixeira
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Ana Catarina Teixeira - Segunda, 30 de Novembro de 2020 às 19:11
 

1- De acordo com a Professora Teresa Barata Salgueiro a turistificação "é um processo de mudança causada pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos atores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana". Isto é, a turistificação decorre de um processo de crescente alterações territoriais no interior da cidade, que podem estar associadas à renovação ou requalificação urbana, associadas à crescente gentrificação dos espaços urbanos e ao surgimento de novos "atores" nas cidades, sejam eles turistas ou com características socioeconómicas específicas. Concordo com a definição apresentada, sendo possível constar, mesmo ao nível das "cidades médias", intervenções associadas a processos de renovação urbana que transformaram os espaços habitacionais, alguns degradados, das cidades, em espaços de alojamento turístico. 

2- O turismo da segunda metade do século XX do turismo contemporâneo, de acordo com a Professora Teresa Barata Salgueiro, apresenta um perfil diferente dos turistas, muito mais diversificado nas suas origens sociais, mas também ao nível temporal e de destinos. Assim, o turista contemporâneo apresenta um padrão de deslocação distribuído ao longo do ano, não se concentrando em épocas específicas relacionadas com as férias, mas com um padrão espacial também diferenciado, uma vez que os destinos deixam de ser os “tradicionais”, acolhendo uma maior “diversidade de segmentos e modalidades”. As cidades passam a ser lugares de destaque, pela cultura, mas o perfil de turista também nesse aspeto apresenta diferenças: o turista quer experienciar os espaços culturais da cidade e apreender a cidade nos seus estilos de vida, de organização e de funcionamento.

 

3- O excerto que selecionei: “Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das actividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares.”

4- A financeirização da habitação surge na medida em que a habitação entra no capital imobiliário, dissociada da sua real função, mas enquanto “mercadoria” de troca, cujo valor está relacionado com o valor de renda locativa, a sua posição no mercado imobiliário. A habitação transforma-se num bem transacionável a diversas escalas e será sempre na perspetiva de negócio que será, numa primeira instância, considerada. As áreas urbanas estão claramente mais expostas a toda a pressão pelo sector imobiliário e a toda a especulação financeira a elas associadas.

Fotografia de Maria Clara Sousa
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Maria Clara Sousa - Terça, 1 de Dezembro de 2020 às 14:56
 

1. De a cordo com a autora turistificação é um processo de mudança causada  pelo aumento do número de turistas, originando uma reconfiguração do papel das autoridades públicas e dos investimentos internacionais com grandes impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana.

Sim concordo com a definição proposta porque o turismo tem provocado grandes transformações territoriais, sociais e económicas, levando a uma descaracterização de certas áreas urbanas, com o consequente desalojamento da população "original"/residente.

2. Enquanto o turismo de massas é aquele que se concentra temporalmente (verão ou inverno) com o objetivo de descansar e recuperar energia para um novo ano de trabalho, não ocorrendo em espaço urbano; o turismo contemporâneo é um turismo mais citadino, diversificado nos tipos, que ocorre ao longo do ano e feito por um novo tipo de de turista que procura novas experiências e emoções.

3. "Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e do emprego, mas também têm efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos das suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares."

4. Fala-se de financeirização da habitação a partir do momento em que esta se tornou num produto financeiro transacionável, em que os bancos tradicionais foram substituídos por fundos imobiliários e bancos estrangeiros, que procuram no imobiliário um investimento seguro a longo prazo, que constroem ou reabilitam  o existente para uma habitação de luxo ou alugueres de curta duração com o objetivo do aumento da rentabilidade do produto uma vez que a função de uso da habitação foi substituída pela função de troca, consequência da movimentação dos capitais fora da esfera produtiva.

Fotografia de José Almeida
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por José Almeida - Terça, 1 de Dezembro de 2020 às 19:32
 

1.

Segundo a autora “a turistificação é um processo de mudança causa­da pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos atores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana”.

Concordo com a definição. Do crescente aumento da atividade turística, e da mudança estrutural que sofre nas últimas décadas, resultam alterações profundas na forma como se age e intervém sobre o território. As mudanças impostas pela aceitação das ideologias neoliberais, como se fossem uma inevitabilidade, converteram, principalmente as cidades, em espaços de oportunidade para acumular capital. Os poderes públicos seduzem-se pela abundância de recursos, indispensáveis para o processo de transformação urbana; os privados, com o músculo dos investidores internacionais, tantas vezes sem rosto, manipulam financeiramente o território. Há claras vantagens económicas no desenvolvimento deste processo, no entanto, não deve ser esquecida a dimensão da perda dos desenraizados, a entorse no mercado de arrendamento e a alienação da matriz cultural que se perde irremediavelmente.

2.    

O turismo de massas pode ser reduzido ao estereótipo do sol e praia, associado aos grandes êxodos estivais das classes médias, que beneficiaram da melhoria do bem-estar, principalmente na Europa, dada pelo estado social. Esta condição garantiu-lhes tempo e rendimento disponíveis para o gozo do direito às férias. É um turismo marcado pela formatação, em que as agências de viagens pré-definem destinos e circuitos, quase sempre não urbanos, controlando o transporte e o alojamento.

O pós-turista emancipa-se, liberta-se das amarras e nega incluir-se na “manada” acrítica que cumpre o cronograma das visitas/destinos. O pós-turista é autónomo e seletivo, tem objetivos concretos em cada viagem e destino. Esta moderna forma de turismo é marcada pelo conceito de “experiências”, que se encontram concentradas nas cidades, no centro delas, onde se sublimam o cosmopolitismo e as particularidades da cultura local. Com a inovação a nível tarifário que se operou nos transportes aéreos, e com a criação de plataformas digitais que permitiram multiplicar as ofertas de alojamento, o turista moderno apoderou-se dos domínios de que depende a sua tomada de decisão.

 3.

“Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das actividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segu­rança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares”.

 

4.  

O solo urbano é encarado como um bem transacionável e, como tal, passível de entrar nas lógicas de uma economia capitalista. Nesta perspetiva, muitas empresas viram no setor imobiliário uma oportunidade de reproduzir riqueza, estimulando o surgimento de empresas de mediação imobiliária, associadas a fundos de investimento, que fazem sentir a sua voracidade sobre o território, ignorando “as necessidades sociais e económicas da comunidade local”. Com esta lógica financeira o solo parece desmaterializar-se, integrando-se “na circulação geral de capitais e, por consequência, na volatilidade das ações de investi­mento e desinvestimento à escala internacional”. Surge daqui a competição entre cidades que pretendem atrair para si o investimento, pela valorização do seu espaço. O investimento numa cidade implicará necessariamente o desinvestimento noutra, que passará a ocupar um lugar inferior na hierarquia global das cidades.


Fotografia de Lucília Almeida
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Lucília Almeida - Quinta, 3 de Dezembro de 2020 às 09:48
 

Questão 1

De acordo com a autora “a turistificação é um processo de mudança causa­da pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos atores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana”.

Concordo com a autora atendendo a que, em resultado do aumento do número de turistas, se desencadearão mudanças no território pela maior pressão sobre a oferta em resultado de um aumento da procura. O catalisador da mudança será dado pelo aumento do investimento, numa perspetiva capitalista, com consequências nos domínios económico e social.

Questão 2

O turismo de massas apresenta um vincado carácter sazonal e espacial, associado ao gozo de férias. O seu carácter sazonal resulta de ocorrer, maioritariamente, no verão, uma vez que a economia se organiza de forma a concentrar o gozo de férias naquela estação do ano. Os destinos preferenciais são não urbanos, sendo preferidas áreas costeiras com vocação balnear.

O pós-turismo caracteriza-se pela procura da cidade, onde é possível, a partir do centro, vivenciar, como um residente, a cultura local. Este novo turista beneficia do encurtamento das distâncias dada pela diminuição das tarifas dos transportes aéreos e das maiores facilidades em encontrar alojamento de acordo com a racionalidade do seu orçamento. Esta nova forma de turismo, convertido num estilo de vida, permite aumentar a interação entre indivíduos de diversas proveniências espaciais e os locais, num exercício de integração entre o local e o global. Aqui a sazonalidade dilui-se em resultado da diminuição da duração da estadia.

Questão 3

“Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das actividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segu­rança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares”.

Questão 4

O setor imobiliário está muito dependente do setor financeiro. Os bancos concedem o crédito sem o qual não se poderia efetivar a transformação do solo. Com a liberalização dos mercados financeiros os investidores mundiais veem o solo urbano e o imobiliário como uma forma de acumular capital, transacionando-os como outra qualquer mercadoria, esperando o seu retorno futuro acrescido de mais-valias.

Este investimento é disputado tanto entre territórios da mesma cidade como entre cidades. Quando o investimento ocorre num determinado espaço, há outro que está a sofrer de desinvestimento.



Fotografia de Maria Guedes
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Maria Guedes - Quinta, 3 de Dezembro de 2020 às 19:11
 

1. Citando a autora, “De facto, a turistificação é um processo de mudança causada pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos actores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana.”

Concordo com a definição da autora, na medida em que o aumento do número de turistas tem contribuído para grandes alterações nas dinâmicas urbanas. Essas novas relações na cidade de Lisboa, traduzem ruturas/alterações sociais, económicas e políticas e se é certo que o turismo constituiu um fator fundamental para as políticas favoráveis de reabilitação e regeneração urbana, é também uma “fonte de desassossego” para os residentes que observam a sua cidade a ser “tomada de assalto” com todos os custos emocionais, sociais e territoriais que lhe são associados. As políticas de regeneração urbana seguindo a lógica de incentivo ao turismo, estão a desenvolver formas de desalojamento e deslocação de população residente, com perda progressiva de qualidade de vida urbana, tornando os processos de gentrificação muito agressivos. Parece existir de facto, na cidade de Lisboa, uma dialética territorial entre estes dois processos (turistificação – gentrificação), sendo difícil, para mim percecionar os seus próprios limites conceptuais.

2.O turismo de massas, é o turismo da segunda metade do século XX, caracterizado pela concentração temporal nos períodos de férias, dirigidos a lugares não urbanos. O turismo contemporâneo, segundo a autora, “…caracteriza-se por uma maior diversidade de segmentos e modalidades, algumas destinadas a verdeiros nichos de consumidores.” O tempo de estadia é muito variável e, as mesmas, são segmentadas ao longo do ano sendo os destinos cada vez mais urbanos. O “novo turista” viaja em low-cost, preferencialmente, pretende conhecer os locais e as sua cultura, na perspetiva de um residente, procurando por isso o alojamento local ou mesmo quartos em casa de famílias para usufruir de um convívio mais próximo.

3. “Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das actividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. Processo com grande vitalidade, enche algumas zonas da cidade de turistas, é objecto de controvérsia social e política e presença constante nos media.” (pág.7)

4) Em que medida se pode falar de financeirização da habitação?

4. A financeirização da habitação ocorre quando se transforma a propriedade imobiliária em bens de investimento financeiro que apesar de ser um bem fixo e imóvel passa a constituir um bem transacionável como qualquer outro. A financeirização do imobiliário em Portugal, tem sido nos últimos tempos favorecida por um quadro fiscal que favorece a iniciativa privadas, as parcerias público-privadas, pela simplificação da lei do Alojamento Local, por regimes fiscais apelativos aos Residentes Não Habituais e aos fundos de investimento imobiliário (programa Golden Visa ou Autorização de Residência para Atividade de Investimento), entre outros contextos.

“Hoje em dia a financeirização impõem-se no processo de circulação de capitais penetrando todos os sectores de actividade à escala global…” e desta forma o setor da habitação vai constituir mais uma forma de acumulação de lucros, por parte de grandes sociedades de investimento internacional.


Fotografia de Ângela Cavaleiro
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Ângela Cavaleiro - Quinta, 3 de Dezembro de 2020 às 21:30
 

1) De acordo com a autora, a turistificação resulta da sujeição do território às leis do setor turístico, associado ao aumento exponencial do número de turistas e, ao novo e determinante papel de atores como as autoridades públicas locais e os investimentos internacionais,  pelo tipo de regulação e motivação que podem trazer, responsável por uma mudança expressiva, em termos do território urbano (setores da habitação, comércio e serviços, espaço publico) e em termos sociais. 

Concordo com esta afirmação no sentido em que, corresponde ao processo que tem vindo a acontecer, tanto em termos mundiais (a partir da segunda metade do século XX), como em Portugal (mais tardiamente, a partir do último quartel do século XX). De facto, deram-se mudanças drásticas em termos dos modelos políticos e económicos vigentes no mundo ocidental. O neoliberalismo, o capitalismo e a globalização, auxiliados por um desenvolvimento rápido dos meios de transporte e da mobilidade, associados ao embaratecimento das viagens, foram determinantes para um incremento geral da economia e nível de vida, mais propriamente dos países ocidentais. Outros fatores foram ainda importantes para um aumento sem precedentes do turismo mundial, tais como o aumento do tempo livre, especialmente para as pessoas da terceira idade e jovens, a alteração nos estilos de vida e condições de segurança. Deste modo,  à medida que o turismo se foi massificando nos principais destinos turísticos, Portugal foi-se constituindo como um destino alternativo, em especial nos últimos anos, tanto pela diversidade e qualidade da sua oferta (destinos, alojamentos e serviços especializados), como pela competitividade dos preços praticados, associada a um interesse de investimento internacional crescente que culmina com outros fatores de grande interesse, de onde se destaca, por exemplo, o nível de segurança apresentado pelo país.

Ainda relativamente à minha concordância com a definição da autora, acrescento que a turistificação tem assim acompanhado o processo de reabilitação urbana e de gentrificação, num processo natural de diversificação dos destinos, invadindo o território português, mais especificamente as cidades, com especial ênfase para as de Lisboa e Porto. As cidades acabam assim por sucumbir às leis de um turismo também ele massificado (inicialmente com o objetivo de fugir a um certo esgotamento dos destinos tradicionais do turismo de massa), que levou à necessidade de produzir novos espaços para a exploração turística, como os centros históricos que possuem importante riqueza patrimonial e cultural e áreas de concentração de comércio e de lazer. As dinâmicas urbanas, tanto as espaciais  como as sociais acabam por ser corrompidas pelo poder do capital (investimento internacional), dos interesses dos agentes locais de governação e de especulação imobiliária, bem como de  políticas urbanas mais favoráveis à reabilitação ou regeneração, que contribuem de forma esmagadora para deturpar aquela que seria a natural ocupação do espaço urbano (em termos habitacionais e de funções terciárias mais tradicionais), em especial no coração das cidades mais antigas. Assiste-se a uma sobreocupação, em termos de alojamentos locais, de comércios, de restauração e outras formas de lazer, completamente vocacionados para os turistas. Não deixam de ser irónicas consequências daí resultantes, tais como, a dificuldade/impossibilidade na aquisição ou arrendamento de habitação em cidades como Lisboa e Porto, por parte dos cidadãos portugueses, o nível de vida exorbitante que aí se faz sentir, a transfiguração das características originais desses espaços, a excessiva circulação, entre outras, e, aquela sensação tão triste que nos leva a sentir "devolvam-nos a nossa cidade".

A definição por si só não traz juízos de valor, no entanto esta definição poderá ser a base de indicadores que permitam estabelecer qual o grau de turistificação a partir do qual se considera este processo prejudicial para a vida de uma cidade. Em menores graus de intensidade, o processo de turistificação é uma preciosa ajuda em várias escalas, seja para o processo de regeneração urbana, seja para a manutenção de postos de trabalho relacionados com o setor terciário, seja, claro, para a economia nacional.

2) O turismo massificado (segunda metade do século XX), refere-se aquele que se concentra temporalmente nos períodos de férias, tanto de Verão (em lugares de sol e mar - turismo balnear),  como de Inverno (em zonas montanhosas e com neve), com o objetivo clássico de descanso e recuperação da energia para novo ano de trabalho. Em ambos os casos, os destinos não eram urbanos.

O turismo contemporâneo ou atual, caracteriza-se por uma maior diversidade de segmentos e modalidades, algumas destinadas a verdadeiros nichos de consumidores, tais como, City breaks, turismo cultural, de negócios, de congressos, de saúde, de compras, entre outros. Para além das diferenças já referidas, acrescem ainda as estadas que tendem a dispersar-se ao longo do ano, por períodos muito variadas, e em que os destinos são cada vez mais citadinos, todos produto de uma construção social. Prova disso é o crescimento da importância do turismo cultural.

3) A turistificação é em si, um processo com um carácter contraditório, evidenciando, de acordo com o texto, aspetos positivos como "Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e do emprego..." e aspetos negativos " ...mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. Processo com grande vitalidade, enche algumas zonas da cidade de turistas, é objeto de controvérsia social e política e presença constante nos media."

4) A financeirização da habitação traduz-se numa crescente e intensa mercantilização do mercado  imobiliário, em especial o que se relaciona com o mercado de habitação, resultando daí uma cada vez maior substituição da sua antiga e tradicional função de habitação própria, por uma nova abordagem  ou mesmo, geografia funcional, em que há ainda alguns empreendimentos que visam o uso pelos respetivos promotores ou compradores (para habitação, comércio, indústria ou outro) mas, na maioria,  se destinam ao rendimento através da venda ou arrendamento do imóvel a residentes ou atividades económicas. No fundo, a propriedade converte-se em mercadoria com características semelhantes a outras mercadorias produzidas, cuja transação permite recuperar o capital investido acrescido de uma mais-valia, base da lógica da acumulação capitalista. 

As políticas neoliberais promoveram o mercado especializado no setor imobiliário que resultou em investimentos em produtos financeiros com elevados retornos e muita liquidez. Este facto pode ser extremamente nocivo pois afasta a influência do urbanismo como instrumento político de diminuição de assimetrias e promoção de equilíbrios  na ocupação territorial, especialmente a urbana, tanto em termos nacionais, como regionais.












Fotografia de Maria Cubal
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Maria Cubal - Sexta, 4 de Dezembro de 2020 às 00:31
 

1- De acordo com a autora do texto “Alojamentos turísticos em Lisboa”, Teresa Barata Salgueiro, a turistificação  “é um processo de mudança causada pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos atores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana.”

De facto, nos últimos anos, o aumento das plataformas online que permitem escolhas individualizadas em termos de viagens turísticas, a diminuição do custo das viagens (através das companhias low cost), as campanhas publicitárias fortes, o aumento da procura de estabelecimentos turísticos alternativos localizados em bairros históricos e típicos (que conferem mais autenticidade às estadias) e a perceção do maior rendimento através do alojamento turístico do que do arrendamento a longo prazo, contribuíram para o aumento do número de turistas em determinados setores das cidades e para o referido processo de mudança. Concordo com a autora, pois verifica-se uma reconfiguração do papel dos atores, com múltiplos impactes, nomeadamente económicos, sociais, ambientais e espaciais. Embora a requalificação de espaços degradados e o contributo positivo que o setor do turismo tem na economia, sejam aspetos a valorizar, não se pode esquecer os danos que também se podem potenciar. A transformação de bairros populares e históricos em locais de consumo e turismo, tão apelativos para os promotores imobiliários nacionais e até internacionais, leva, muitas vezes, à expulsão da sua população local e à substituição de serviços e do comércio tradicional de proximidade por outros mais especializados e sofisticados, o que conduz ao esvaziamento dos valores culturais intrínsecos, que são a “alma” destes espaços.

 

2- O turismo massificado da segunda metade do século XX caracterizava-se pela sua concentração, em termos temporais, nos períodos de férias destinadas ao descanso e recuperação da energia para um novo ano de trabalho. Não dominavam os destinos urbanos, mas os associados ao sol e ao mar (férias de verão) ou às montanhas e à neve (férias de inverno). O turismo contemporâneo é cada vez mais citadino, distribuído ao longo do ano e com estadas de dimensões variadas. Caracteriza-se por uma maior diversidade de segmentos e modalidades: cultural, de negócios, de congressos, de saúde, de compras, city breaks, entre muitos outros. Emerge um novo perfil de turista: “novo turista” ou “pós turista”, que pretende conhecer novos lugares e culturas mas, simultaneamente, também procura sentir e experienciar o interior da cidade, tal como se fosse um residente.

 

3- O seguinte excerto do texto “Alojamentos turísticos em Lisboa” evidencia, claramente, o caráter contraditório da turistificação: “ Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das actividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos das suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. Processo com grande vitalidade, enche algumas zonas da cidade de turistas, é objeto de controvérsia social e política e presença constante nos media.”

 

4- A financeirização da habitação refere-se à transformação da habitação num ativo a ser utilizado para obter lucro via especulação financeira, tornando a propriedade imobiliária num produto transacionável como qualquer outro, numa mercadoria útil para gerar lucro. O crescente peso da finança e dos seus agentes na habitação enaltece o seu valor de troca em detrimento do seu valor de uso ou de satisfação das necessidades da vida quotidiana (um direito básico). Deste modo, a habitação financeirizada, particularmente quando associada a importantes projetos imobiliários (incluindo a transformação de centros históricos e tradicionais), atrai grandes investidores, muitas vezes internacionais, que procuram no imobiliário um investimento seguro, de valorização rápida, não precisando de manter com o país qualquer tipo de ligação relacional de longo prazo. O imobiliário residencial de luxo das cidades globais funciona como um cofre seguro para o capital da elite transnacional.

O conflito entre habitação como um direito e habitação como mercadoria é real, transformando-se a última num mecanismo de reprodução de desigualdades sociais, com preços de habitação incontroláveis e processos de expulsão dos habitantes dos centros urbanos. A habitação tornou-se num ótimo investimento do ponto de vista das taxas de rendibilidade, resultado do reforço do peso económico e político do imobiliário. Atualmente “a financeirização impõe-se no processo de circulação de capitais, penetrando todos os setores de atividade à escala global …” e, no que à habitação diz respeito, o conflito está a ser ganho pelo lado da mercantilização/mercadorização.


Fotografia de Paulo Santos
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Paulo Santos - Sexta, 4 de Dezembro de 2020 às 09:31
 

1 – A turistificação pode ser definida como um processo de mudança causado pelo aumento dos turistas num determinado local, estando associada à reconfiguração do papel dos diversos atores e com impactos no acesso à habitação, no comércio e serviços, espaços públicos, qualidade de vida e na própria paisagem urbana. Este processo de mudança é tão mais acentuado quanto maiores forem as transformações observadas, podendo mesmo verificar-se uma alteração/ descaraterização total destas áreas quer a nível demográfico e social (com a saída dos moradores locais), mas também ao nível económico (com reorientação das atividades para “servir” os turistas), ao nível da habitação )com a transformação do parque habitacional em alojamentos turísticos) e da própria transformação da paisagem urbana (embelezada para os visitantes). Assim, concordo com a definição proposta.

2 – O turismo massificado da segunda metade do século XX caraterizava-se por uma concentração temporal, associada aos períodos de férias e à ideia de recuperação de energias. O turismo contemporâneo apresenta uma maior diversidade de segmentos e modalidades, processando-se de forma mais segmentada ao longo do ano, com estadias mais curtas, com destinos cada vez mais citadinos e culturais.

3 – «Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaraterização dos lugares».

4 – Pode falar-se em financeirização da habitação na medida em que o investimento no mercado imobiliário começou a ser encarado como uma forma de rentabilização de ativos financeiros convertendo a propriedade em mercadoria, cuja transação permite recuperar o capital investido acrescido de uma mais valia, o que é a base da lógica da acumulação capitalista.


Fotografia de Armando Cubal
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Armando Cubal - Sexta, 4 de Dezembro de 2020 às 21:04
 

1.              Segundo Teresa Barata Salgueiro, a Turistificação “é um processo de mudança causada pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos atores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana”.

      Na minha opinião, tal como foi referido pela Profª Teresa Barata Salgueiro, a Turistificação é um processo que conduz a uma mudança na utilização da habitação que, deixa de ter residentes fixos e de longa duração, passando a ter “ocupantes” temporários, de curta duração, ao mesmo tempo que leva a uma mudança significativa no tipo de comércio e serviços oferecidos no espaço urbano alvo deste processo, sendo mais virados para os turistas. O tipo de habitantes destas áreas também muda radicalmente, perdendo-se a identidade própria dos espaços alvo da turistificação, exigindo por parte poder político nacional e local uma atuação diferente, tanto a nível dos apoios sociais à população residente na área, como aos ex-residentes que foram “forçados” a abandonar as suas habitações, fruto da pressão resultante da especulação imobiliária, da Gentrificação e da Turistificação

 

2.              O Turismo massificado da segunda metade do século XX caracteriza-se por uma maior concentração temporal nos períodos de férias destinadas ao descanso e à recuperação de energias para o novo ano de trabalho/estudo. Normalmente, os destinos de férias eram não urbanos, quer fossem férias de Verão, em lugares de Sol e de mar, ou de Inverno, em zonas montanhosas e com neve.

       O Turismo contemporâneo (pós-turismo) é caracterizado por uma maior diversidade de segmentos e de modalidades, sendo algumas delas destinadas a verdadeiros nichos de consumidores, nomeadamente, City Breaks, turismo cultural, de negócios, de congressos, de saúde, de compras, etc … No Turismo Contemporâneo, as estadias têm dimensões mais variadas, tendendo a repartir-se de forma mais segmentada ao longo do ano, sendo o destino cada vez mais citadino. 

 

3.            “ Os processos de Turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e do emprego, mas também têm efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. Processo com grande vitalidade, enche algumas zonas da cidade de turistas, é objeto de controvérsia social e política e presença constante nos media. “

 

4.            Podemos falar cada vez mais em Financeirização da Habitação na medida em que se verifica cada vez mais a influência dos sectores financeiros no mercado da habitação. A Habitação pode ser cada vez mais considerada um ativo a ser utilizado para obter lucro, por intermédio da especulação financeira.  

     Desde os anos 1980, a Financeirização da habitação tem assentado na promoção da habitação de propriedade própria através das bonificações de juros. O acesso ao crédito fácil levou as famílias a endividarem-se para comprar casa e as empresas de construção e imobiliário a contrair dívidas para construir e expandir as suas atividades, uma vez que a construção urbana é uma atividade que necessita de recursos financeiros muito elevados que implica uma grande dependência do crédito, com benefício direto dos bancos que tinham o controlo direto tanto da oferta como da procura da habitação, obtendo lucros elevados resultantes desta situação.  

      Com a crise financeira resultante da “bolha imobiliária” de 2006/2007 não se verificou a diminuição da Financeirização da habitação, apostando o setor financeiro nesta fase no setor do arrendamento. Mais recentemente, a Financeirização da habitação tem vindo a ser criticada por transformar um direito básico da população, numa mercadoria útil para gerar lucro. Nas últimas décadas surgiram diversos produtos financeiros que permitem transformar a propriedade imobiliária em bens de investimentos transacionáveis no mercado especializado, convertendo a propriedade imobiliária em mercadoria com características semelhantes a outras mercadorias produzidas. 

    Atualmente  a financeirização impõe-se no processo de circulação de capitais penetrando em todos os setores de atividade à escala global. A Financeirização aparece como um padrão de acumulação em que o lucro provem cada vez mais de instrumentos financeiros e não da produção e troca de bens.

 

 

 

 

 


Fotografia de Isabel Mota
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Isabel Mota - Sábado, 5 de Dezembro de 2020 às 00:34
 


1 – A autora refere que “De facto, a turistificação é um processo de mudança causa­da pelo aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos actores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana.”

Pessoalmente concordo com esta definição pois a turistificação é muito mais do que um simples aumento do número de turistas; acarreta um conjunto de transformações que vão desde a forma de ocupação do espaço (habitação, comércio, cultura, equipamentos sociais, espaço público e privado), ao tipo de turista, ao tempo de permanência, ao que é oferecido ao turista (que por sua vez vai ao encontro daquilo que o turista quer encontrar), às manifestações culturais (inicialmente espontâneas e tradicionais e aos poucos artificializadas). Quando não se estabelecem limites, a turistificação pode levar a uma artificialização total de um bairro ou de um conjunto de bairros já que tudo o que existia de genuíno e tradicional foi-se ajustando aos padrões de requisitos dos novos turistas, mais endinheirados ou culturalmente mais seletivos.


2 –

Turismo massificado

Turismo contemporâneo

Mais concentrado em termos temporais, sendo muito fácil distinguir a época alta da época baixa.

Temporalmente mais espaçado durante todo o ano (muito difícil distinguir época alta de época baixa).

Turismo era sempre fora da cidade

Turismo tem como destino a cidade

Turismo de lazer, com forte predominância de elementos naturais.

Turismo cultural, turismo de negócios, de congressos, de saúde, entre outros.

Turista gosta de se sentir diferente da população local

Turista gosta de interagir com os residentes e de se sentir como um deles.

 

3 - “Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das actividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. Processo com grande vitalidade, enche algumas zonas da cidade de turistas, é objecto de controvérsia social e política e presença constante nos media”.

4 – A construção ou a reabilitação de edifícios é um processo que exige um grande investimento financeiro. Tradicionalmente, este financiamento era captado através do crédito bancário, através de empréstimos que se ajustavam a cada uma das fases dos projetos. O objetivo era obter lucro com o arrendamento ou com a venda de imóveis a residentes ou para o desenvolvimento de atividades económicas.

Atualmente, a financeirização impõe-se no processo de circulação de capitais penetrando todos os sectores de actividade à escala global, havendo um padrão de acumulação em que o lucro provem cada vez mais de instrumentos financeiros e não da produção e troca de bens.




 

Fotografia de Ana Marcos
Re: Fórum 2 - gentrificação turística (a partir da 2ª ou 3ª sessão assíncrona)
por Ana Marcos - Sábado, 5 de Dezembro de 2020 às 10:09
 

1.       Turistificação é a alteração do mercado imobiliário fruto do crescimento rápido dos alojamentos para arrendamento de curta duração em função do aumento do número de turistas. Está, segundo a autora, associada à reconfiguração do papel dos atores e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria paisagem urbana.

Estou de acordo com esta ideia da massificação turística  que embora traga um potencial económico relevante tem repercussões sociais elevadas ao nível dos despejos, do aumento das rendas nos centros históricos e da própria perda de identidade cultural dos lugares.

 

2.        O turismo massificado da segunda metade do século XX dizia respeito a uma concentração nos períodos de férias para localizações mais tradicionais e para estâncias balneares. O turismo contemporâneo corresponde a uma procura por destinos mais diversificados em termos de localização geográfica e em termos de tipologia. O “novo” turista “tem uma imagem negativa do turista predador, pretende conhecer novos sítios e culturas mas, ao mesmo tempo, procura sentir a cidade a partir de dentro, com o olhar de um residente”.

 

3.       “Os processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. “

 

4.       A financeirização da habitação refere-se à transformação da habitação num ativo de obtenção de lucro via especulação financeira, tornando a propriedade imobiliária num produto transacionável. A procura do lucro, associada aos novos paradigmas do turismo e à especulação imobiliária, transformam o mercado habitacional num meio apetecível de investimento gerando alguns conflitos nos paradigmas “habitação como direito” e “habitação mercadoria”. Esta última funciona como mecanismo de reprodução de desigualdades sociais e de gentrificação.