1) De acordo com a autora, a
turistificação resulta da sujeição do território às leis do setor turístico,
associado ao aumento exponencial do número de turistas e, ao novo e determinante
papel de atores como as autoridades públicas locais e os investimentos
internacionais, pelo tipo de regulação e
motivação que podem trazer, responsável por uma mudança expressiva, em termos
do território urbano (setores da habitação, comércio e serviços, espaço
publico) e em termos sociais.
Concordo com esta afirmação no sentido em que, corresponde
ao processo que tem vindo a acontecer, tanto em termos mundiais (a partir da
segunda metade do século XX), como em Portugal (mais tardiamente, a partir do
último quartel do século XX). De facto, deram-se mudanças drásticas em termos dos
modelos políticos e económicos vigentes no mundo ocidental. O neoliberalismo, o
capitalismo e a globalização, auxiliados por um desenvolvimento rápido dos
meios de transporte e da mobilidade, associados ao embaratecimento das viagens,
foram determinantes para um incremento geral da economia e nível de vida, mais
propriamente dos países ocidentais. Outros fatores foram ainda importantes para
um aumento sem precedentes do turismo mundial, tais como o aumento do tempo
livre, especialmente para as pessoas da terceira idade e jovens, a alteração
nos estilos de vida e condições de segurança. Deste modo, à medida que o turismo se foi massificando
nos principais destinos turísticos, Portugal foi-se constituindo como um
destino alternativo, em especial nos últimos anos, tanto pela diversidade e qualidade
da sua oferta (destinos, alojamentos e serviços especializados), como pela
competitividade dos preços praticados, associada a um interesse de investimento
internacional crescente que culmina com outros fatores de grande interesse, de
onde se destaca, por exemplo, o nível de segurança apresentado pelo país.
Ainda relativamente à minha concordância com a
definição da autora, acrescento que a turistificação tem assim acompanhado o
processo de reabilitação urbana e de gentrificação, num processo natural de
diversificação dos destinos, invadindo o território português, mais
especificamente as cidades, com especial ênfase para as de Lisboa e Porto. As
cidades acabam assim por sucumbir às leis de um turismo também ele massificado
(inicialmente com o objetivo de fugir a um certo esgotamento dos destinos
tradicionais do turismo de massa), que levou à necessidade de produzir novos
espaços para a exploração turística, como os centros históricos que possuem
importante riqueza patrimonial e cultural e áreas de concentração de comércio e
de lazer. As dinâmicas urbanas, tanto as espaciais como as sociais acabam por ser corrompidas
pelo poder do capital (investimento internacional), dos interesses dos agentes
locais de governação e de especulação imobiliária, bem como de políticas urbanas mais favoráveis à
reabilitação ou regeneração, que contribuem de forma esmagadora para deturpar
aquela que seria a natural ocupação do espaço urbano (em termos habitacionais e
de funções terciárias mais tradicionais), em especial no coração das cidades
mais antigas. Assiste-se a uma sobreocupação, em termos de alojamentos locais,
de comércios, de restauração e outras formas de lazer, completamente
vocacionados para os turistas. Não deixam de ser irónicas consequências daí resultantes,
tais como, a dificuldade/impossibilidade na aquisição ou arrendamento de
habitação em cidades como Lisboa e Porto, por parte dos cidadãos portugueses, o
nível de vida exorbitante que aí se faz sentir, a transfiguração das
características originais desses espaços, a excessiva circulação, entre outras,
e, aquela sensação tão triste que nos leva a sentir "devolvam-nos a nossa
cidade".
A definição por si só não traz juízos de valor, no
entanto esta definição poderá ser a base de indicadores que permitam
estabelecer qual o grau de turistificação a partir do qual se considera este
processo prejudicial para a vida de uma cidade. Em menores graus de
intensidade, o processo de turistificação é uma preciosa ajuda em várias
escalas, seja para o processo de regeneração urbana, seja para a manutenção de
postos de trabalho relacionados com o setor terciário, seja, claro, para a economia nacional.
2) O turismo massificado (segunda metade do século
XX), refere-se aquele que se concentra temporalmente nos períodos de férias,
tanto de Verão (em lugares de sol e mar - turismo balnear), como de Inverno (em zonas montanhosas e com
neve), com o objetivo clássico de descanso e recuperação da energia para novo
ano de trabalho. Em ambos os casos, os destinos não eram urbanos.
O turismo contemporâneo ou atual, caracteriza-se
por uma maior diversidade de segmentos e modalidades, algumas destinadas a verdadeiros
nichos de consumidores, tais como, City breaks, turismo cultural, de negócios,
de congressos, de saúde, de compras, entre outros. Para além das diferenças já
referidas, acrescem ainda as estadas que tendem a dispersar-se ao longo do ano,
por períodos muito variadas, e em que os destinos são cada vez mais citadinos,
todos produto de uma construção social. Prova disso é o crescimento da
importância do turismo cultural.
3) A turistificação é em
si, um processo com um carácter contraditório, evidenciando, de acordo com o
texto, aspetos positivos como "Os
processos de turistificação dão-se em paralelo com importante intervenção no
edificado e no espaço público, trazem crescimento das atividades económicas e
do emprego..." e aspetos negativos " ...mas têm também
efeitos perversos, porque reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar
inflacionando o valor dos alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes
expulsos de suas casas e bairros, violam a privacidade e segurança de alguns
edifícios e contribuem para a descaracterização dos lugares. Processo com
grande vitalidade, enche algumas zonas da cidade de turistas, é objeto de
controvérsia social e política e presença constante nos media."
4) A financeirização da habitação traduz-se numa
crescente e intensa mercantilização do mercado
imobiliário, em especial o que se relaciona com o mercado de habitação,
resultando daí uma cada vez maior substituição da sua antiga e tradicional
função de habitação própria, por uma nova abordagem ou mesmo, geografia funcional, em que há
ainda alguns empreendimentos que visam o uso pelos respetivos promotores
ou compradores (para habitação, comércio, indústria ou outro) mas, na maioria, se destinam ao rendimento através da venda ou
arrendamento do imóvel a residentes ou atividades económicas. No fundo, a
propriedade converte-se em mercadoria com características semelhantes a outras
mercadorias produzidas, cuja transação permite recuperar o capital investido
acrescido de uma mais-valia, base da lógica da acumulação capitalista.
As políticas neoliberais promoveram o mercado
especializado no setor imobiliário que resultou em investimentos em produtos
financeiros com elevados retornos e muita liquidez. Este facto pode ser
extremamente nocivo pois afasta a influência do urbanismo como instrumento político
de diminuição de assimetrias e promoção de equilíbrios na ocupação territorial, especialmente a
urbana, tanto em termos nacionais, como regionais.