1) De acordo com a
autora, como se pode definir turistificação? Concorda com esta definição?
Porquê?
A definição de turistificação de
Teresa Barata Salgueiro é analisada como um “processo de mudança causada pelo
aumento do número de turistas, está associada à reconfiguração do papel dos
atores, designadamente das autoridades públicas locais e dos investimentos
internacionais, e tem impactes no acesso à habitação, nas facilidades
comerciais e de serviços, no espaço público, na qualidade de vida e na própria
paisagem urbana”.
Tendo por
base a definição, por comparação, de Miguel Angel Troitiño
e Liberdad Troitiño, avançada por Teresa Barata Salgueiro, considerando a turistificação
“como a sujeição dos territórios às demandas do sector turístico, o que tem
importantes efeitos em termos sociais e no território”, parece-nos que a
primeira definição estará mais completa e de melhor compreensão dado que avança
no conceito, clarificando-o quanto aos atores intervenientes, bem como aos
impactes daí resultantes, nomeadamente no que diz respeito à qualidade de vida,
bem como a própria paisagem urbana.
Assim, se entende a turistificação como um
processo e não apenas como uma ação ou ações singulares, desgarradas. Deste
modo, a turistificação de Teresa Barata Salgueiro tem implícita a ação de
avançar, tornando-se um conjunto sequencial e particular de ações com objetivo
comum, alertando para os seus impactes.
2) Distinga o turismo
contemporâneo (pós-turismo) do turismo massificado da segunda metade do século XX.
Tendo por base o texto em referência, Teresa Barata Salgueiro
refere-se ao turismo massificado da segunda metade do século XX, como sendo
aquele que “mostrava concentração temporal nos períodos de férias destinadas ao
descanso e recuperação da energia para novo ano de trabalho. Fossem férias de
verão, em lugares de sol e mar, ou de Inverno, em zonas montanhosas e com neve,
ambos os destinos eram não urbanos”.
Por sua vez, o turismo contemporâneo (pós-turismo) é caracterizado
“por uma maior diversidade de segmentos e modalidades, algumas destinadas a
verdadeiros nichos de consumidores”. Neste particular a autora inclui “City
breaks, turismo cultural, de negócios, de congressos, de saúde, de compras,
entre muitos outros”. Esclarece ainda que neste tipo de turismo mais recente,
“as estadas têm dimensões muito variadas, tendem a processar-se de forma mais
segmentada ao longo do ano e o destino é, cada vez mais, citadino”.
Caracterizar o pós-turismo é também
perceber o perfil do pós-turista, em tudo diferente do perfil do turista da
segunda metade do século XX. Deste modo, este apresenta-se como alguém que tem
“uma imagem negativa do turista predador”, e “pretende conhecer novos sítios e
culturas mas, ao mesmo tempo, procura sentir a cidade a partir de dentro, com o
olhar de um residente”. Evitam o alojamento hoteleiro e optam por quartos
arrendados em casas familiares, pois permite-lhes um contacto mais próximo com
a realidade local.
3) Transcreva um
excerto do texto que evidencie o carácter contraditório da turistificação
(aspectos positivos vs. aspectos negativos).
O carácter contraditório da turistificação, através da
oposição entre aspectos positivos versus aspectos
negativos, está bem patente no que se segue:
“Os processos de turistificação dão-se em paralelo com
importante intervenção no edificado e no espaço público, trazem crescimento das
atividades económicas e do emprego, mas têm também efeitos perversos, porque
reduzem drasticamente a oferta de casas para arrendar inflacionando o valor dos
alugueres, negam o acesso ao lugar a residentes expulsos de suas casas e
bairros, violam a privacidade e segurança de alguns edifícios e contribuem para
a descaracterização dos lugares. Processo com grande vitalidade, enche algumas
zonas da cidade de turistas, é objeto de controvérsia social e política e
presença constante nos media” (página7).
4) Em que medida se
pode falar de financeirização da habitação?
Falar em
financeirização da habitação é ter em linha de conta que a circulação do
capital é uma realidade crescente, aplica-se no espaço geográfico e tem de ter,
forçosamente, em linha de conta o papel das políticas públicas na atração de
visitantes e de investimento para o imobiliário e regeneração urbana. Aliás, em
Portugal, a liberalização do sector financeiro em Portugal, “desde meados dos
anos 80, trouxe o aumento dos Fundos de Investimento Imobiliário que gozam de
uma tributação favorável”.
Se
atendermos ao facto da construção urbana necessita de elevados investimentos,
compreenderemos facilmente a importância da sua financeirização, até porque “o modo de produção urbana depende da mobilidade dos capitais e da
possibilidade de negociar o solo urbano como os outros bens/mercadorias”.
Através do
recurso ao crédito, podemos assistir a algumas alterações na forma como se
acede ao financiamento e ainda acerca dos motivos que levam ao recurso à
“banca”. Desta forma, “alguns empreendimentos visam o uso pelos respectivos
promotores ou compradores (para habitação, comércio, indústria ou outro) mas,
na maioria, destinam-se ao rendimento através da venda ou arrendamento do
imóvel a residentes ou atividades económicas”. Assim se justifica a importância
do financiamento para a construção urbana.
No
seguimento do que se vem afirmando, quando abordamos a edificação de grandes
projetos imobiliários, verificamos que se efetuou uma reorganização dos
intervenientes, formando-se consórcios de “grandes construtoras e investidores
institucionais”, de modo a adquirirem “investimento seguro e de longo prazo”.
Em suma, se
a financeirização da habitação é algo que existe quer a nível particular quer
através do financiamento de empresas para a concretização de projetos
imobiliários, ao mesmo tempo, é de tal forma importante que vai determinar o
sistema de circulação de capitais, podendo mesmo ser utilizado em todos os
sectores de atividade à escala global.
JMPS