1-O termo gentrification
tem origem no termo gentry, que se traduz por “pequena nobreza” ou “pequena
aristocracia”. Foi referido pela primeira vez por Ruth Glass, em 1964,
referindo-se à mobilidade residencial dos indivíduos das classes médias para as
áreas populares da cidade de Londres. A partir de então, assistiu-se a uma
discussão concetual em torno do mesmo, tendo sindo apresentadas várias
definições ao longo das últimas quatro décadas. No entanto, para que ocorra
gentrificação, será necessário que se combinem 4 processos:
1-reorganização da geografia social da cidade, com substituição, nas
áreas centrais da cidade, de um grupo social por outro de estatuto mais elevado;
2-um reagrupamento espacial de indivíduos com estilos de vida e
características culturais similares;
3-uma transformação do ambiente construído e da paisagem urbana, com a
criação de novos serviços e uma requalificação residencial que prevê
importantes melhorias arquitetónicas;
4-uma mudança da ordem fundiária, que, na maioria dos casos, determina
a elevação dos valores fundiários e um aumento da quota das habitações em
propriedade.
Savage and Warde (1993)
Em suma, a gentrificação é um
processo de mudança urbana com substituição social. Ocorre no centro histórico
da cidade, no qual um grupo de baixo estatuto socioeconómico é substituído por
outro de maior estatuto, por via do aumento da renda locativa em virtude da
reabilitação urbana.
2- As teorias explicativas da gentrificação assentam nas teses da
produção e do consumo. Com uma influência marxista, as primeiras teorias
enfatizam a importância do capital e dos vários agentes institucionais (Estado,
Poder Local, Bancos e outras instituições financeiras) em todo o processo de
reestruturação do espaço urbano. Assim, o processo de gentrificação deriva do
movimento e circulação de capital nas áreas urbanas, procurando explicar este
processo através da desvalorização que sofre o solo urbano em relação ao
rendimento que um novo investimento poderia ter.
Neil Smith (1979) refere-se à
emergência do “rent gap” nos bairros centrais, isto porque se acentua a
diferença entre a atual renda capitalizada face ao presente uso do solo, e a
renda que potencialmente poderá a vir a ser capitalizada tendo em conta a sua
localização central. É este movimento de saída de capital para os subúrbios e o
consequente surgimento do fenómeno “rent gap” no espaço urbano central que,
segundo Neil Smith, cria maiores oportunidades económicas para a reestruturação
urbana dos bairros centrais e para o investimento público e privado, na
reabilitação e recuperação do seu parque habitacional. As teorias que
privilegiam o consumo, apresentam a gentrificação como uma consequência direta
das mudanças verificadas na estrutura demográfica e social da população e no
estilo de vida de certos setores da classe média, nos valores e padrões de
consumo a ele associados. Saliente-se que a organização socioeconómica
contemporânea tem-se afirmado cada vez mais à luz do privilégio do consumo, de
modo que se pode falar em sociedade e cultura de consumo (Baudrillard).
Interligado com esta cultura de consumo e de emergência e crescimento de
atividades de produção simbólica também se afirma a estetização da vida social,
que deverá entender-se como a reintrodução no domínio socioeconómico de
categorias do mundo artístico que estavam “de lado” da vida quotidiana. A arte
é cada vez mais valorizada, é fonte de referências a incorporar na estilização
da vida de púbicos sociais cada vez mais abrangentes (Featherstone).
3- Segundo Neil
Smith (1996), o duplo processo de desindustrialização-terciarização, em
complemento do fenómeno de rent gap é
suficiente para explicar a profunda reestruturação que ocorre atualmente nos
centros históricos. Além disso, em consequência da reconfiguração das
atividades económicas da cidade, foram várias as mudanças na estrutura
profissional e na apropriação dos grupos sociais do espaço urbano, que tiveram
bastante importância no surgimento do processo de nobilitação urbana. A organização socioeconómica contemporânea e
as respetivas manifestações no comportamento dos indivíduos e dos grupos
sociais permite-nos falar em sociedade e cultura de consumo. Este fenómeno
(cultura de consumo) e também a estetização da vida social, estão na base da
afirmação de uma “nova classe média” na reconfiguração das cidades centrais e
na valorização de novos produtos imobiliários. Além dos “intermediários
culturais”, o novo grupo social está interligado com profissões científicas e
técnicas relacionadas com a educação, a formação profissional e o meio
académico.